GRANDE ENCICLOPÉDIA 1° DE ABRIL – PARTE II
Este é, ouso afirmar, o livro mais raro que temos na biblioteca de casa. Como já disse, foi comprado de um turco sorridente na Tríplice Fronteira, em um sebo que ficou aberto por cerca de quinze minutos. Sua capa não apresenta um design inovador para a época (2062): feita de um material sintético que imita o couro, apresenta um azul muito escuro. O título, em baixo relevo, está todo escrito em letras maiúsculas, com uma tipologia sóbria dotada de leves serifas. Pequenos e sistemáticos arranhões nas letras me fazem crer que, um dia, elas tiveram outro tom. Talvez dourado, como era comum em antigas enciclopédias. Ou não, já que o exemplar é em todo surpreendente. Acompanhe outros verbetes:
• Dóris Casoy – Bailarina, modelo e apresentadora de TV. Sua passagem midiática foi marcada por um enorme poder de indignação, evidente já nas passarelas e fotografias de moda. Segundo consta, foi de Dóris Casoy o mais famoso bordão contra o escandaloso mau gosto de alguns papas da alta costura: bastava vestir algo ridículo para bradar "isso é uma vergonha". Depois de altos e baixos como apresentadora de TV, ressuscitou para a fama ao sobreviver a uma queda de oito andares. Chegou a ser cotada, por motivos óbvios, para voltar ao Fantástico (o Show da Vida). Ou apresentar o Acredite se quiser. Mas preferiu dedicar-se a um programa assistencial denominado Dóris Apara Maiores, no qual ela colocava telhas de amianto nos andares térreos de prédios de suicidas em potencial.
• Nelson Nerd – O menor maior cantor que o Brasil conheceu. Junto com a arte, nutria uma obsessão pela informática – segundo Nelson, apoiado por todos os parentes Nerds, uma vertente do conhecimento que rumava para a sua envergadura ideal. Investiu parte dos ganhos advindos de seu desproporcional sucesso em empresas destinadas às novas mídias, cada vez mais reduzidas. Há relatos de que seu centrinho de pesquisas estava no caminho de antecipar-se às grandes corporações no desenvolvimento da tecnologia MP3 e MP4, quando Nelson jogou tudo para cima (na medida do possível, é claro). Vendeu suas patentes e propriedades, abandonou os fãs e foi cantar em Liliput. Dizem que se tornou o maior artista do lugar.
• Simon & Guarabyra – Dupla que nasceu de um trio: Simon, Dylan (Bob Dylan) & Guarabyra. Os compositores e cantores foram os criadores de uma nova vertente da música, vinda do casamento do folk norte-americano e do spiritual caipira, denominada Rock Santeiro. Tornaram-se referência mundial ao compor a trilha da novela "A primeira noite de um cabra safado" (história de um motorista de táxi brasileiro em Nova Iorque – Dustin Hoffman – que se apaixonava por uma coroa – Vera Fischer). Influenciaram outra dupla, esta nacional, que também saiu de um trio: Sá, Rodrix (Zé Rodrix) & Garfunkel. A dupla Sá & Garfunkel, após se antecipar ao aquecimento global cantantando ... o Sertão vai virar mar..., traduziu de Simon e Guarabyra o sucesso mundial Bridge Over Troubled Water . Em bom português: Brinque de outro troço, Walter.