28.12.12

505

O Rufar dos Tambores está agora lá no novo site!
Assine, leia, acompanhe... Abraços, Rubem

26.12.12

OFICINA COM INSCRIÇÕES ABERTAS


No Apolinário, oficina literária de verão: intensiva, em horário e ambiente de Happy Hour, aborda a influência da estação mais quente na rotina da cidade.
Para o público em geral.
Soa Assim 2
Sinopse:
Afinal, o que muda em Porto Alegre durante a temporada de férias escolares e de praia? Fica melhor? Fica pior? Há bons programas para quem fica por aqui? Essas e outras questões fazem parte da oficina literária Porto Alegre Soa Assim – o verão da cidade em crônicas, ministrada pelo escritor, músico e publicitário Rubem Penz.
Para os que não gozam de folga, o convite é irresistível: encontros para conhecer, aprender e praticar o gênero crônica através de exercícios criativos, tendo como tema o verão porto-alegrense. Melhor: nas segundas-feiras em horário e local de Happy Hour, com a vantagem de fazer novos amigos entre pessoas cultas interessantes.
Da mesma forma como acontece na já consagrada oficina Santa Sede, a turma se reunirá no boteco Apolinário, 19h30, com plena permissão para o serviço de bar durante a aula.
Vagas limitadas:
Como a ideia é sempre ler todos os textos produzidos, só há nove seletos lugares à mesa.
Maior procura poderá abrir turma extra, nos mesmos dias e no horário das 21h30.

Serviço:
O que: Oficina intensiva Porto Alegre Soa Assim – o verão da cidade em crônicas
Quando:
Janeiro – dias 07, 14, 21 e 28/01 (segundas-feiras), 19h30.
Onde: Apolinário, Rua José do Patrocínio, 527, Cidade Baixa – estacionamento próprio (cobrado).
Investimento: R$ 160,00

Contato: rubempenz@gmail.com ou (51) 9123.5540

14.12.12

Rufar dos Tambores 503


Um filme diante dos meus olhos já está no site:
http://rubempenz.net/um-filme-diante-dos-olhos/

Fica o convite para assinar a newsletter em Rubempenz.net e receber todas as crônicas atualizadas.

Bom final de semana, abraço,
Rubem

9.12.12

Oficina intensiva de verão


Oficina com inscrições abertas: Porto Alegre Soa Assim

Oficina literária de verão: intensiva, em horário e ambiente de Happy Hour, aborda a influência da estação mais quente na rotina da cidade.
Para o público em geral.

Sinopse:
Afinal, o que muda em Porto Alegre durante a temporada de férias escolares e de praia? Fica melhor? Fica pior? Há bons programas para quem fica por aqui? Essas e outras questões fazem parte da oficina literária Porto Alegre Soa Assim – o verão da cidade em crônicas, ministrada pelo escritor, músico e publicitário Rubem Penz.
Para os que não gozam de folga, o convite é irresistível: encontros para conhecer, aprender e praticar o gênero crônica através de exercícios criativos, tendo como tema o verão porto-alegrense. Melhor: nas terças-feiras em horário e local de Happy Hour, com a vantagem de fazer novos amigos entre pessoas cultas interessantes.
Da mesma forma como acontece na já consagrada oficina Santa Sede, a turma se reunirá no boteco Apolinário, 19h30, com plena permissão para o serviço de bar durante a aula.
Vagas limitadas:
Como a ideia é sempre ler todos os textos produzidos, só há nove seletos lugares à mesa.
Maior procura poderá abrir turma extra, nos mesmos dias e no horário das 21h.

Serviço:
O que: Oficina intensiva Porto Alegre Soa Assim – o verão da cidade em crônicas
Quando:
Janeiro – dias 08, 15, 22 e 29/01 (terças-feiras), 19h30.
Onde: Apolinário, Rua José do Patrocínio, 527, Cidade Baixa – estacionamento próprio (cobrado).
Investimento: R$ 160,00

Contato: rubempenz@gmail.com ou (51) 9123.5540



7.12.12

Número 502

Luz e sombra
Leia em:
http://rubempenz.net/luz-e-sombra/
Abraços, Rubem Penz

5.12.12

Coluna do Metro em 05.12.12

Reitero o convite aos leitores do Rufar: assinem lá no site a nova newsletter!

Passo por aqui e deixo o link com um texto de hoje. Abração, Rubem

http://rubempenz.net/as-muitas-dores-de-nossas-colunas/

30.11.12

Número 501

Rufar 501: Beckers Likör, para dar água na boca!
Assinem e companhem no novo endereço:
Bom final de semana, abraços, Rubem


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28.11.12

Coluna do Metro em 28.11.2012

Caro seguidor do Rufar,

Para ficar mais bacana, mais completo, estou migrando as publicações para o site www.rubempenz.net e, num só lugar, concentrar minha vida na web.

Leia a crônica de hoje no link a seguir e, para conceder-me a honra de sua companhia, torne-se meu seguidor cadastrando o e-mail no site.

Abraços, grato, Rubem

http://rubempenz.net/a-infalivel-teoria-do-dobro/

23.11.12

Número 500

Gente,

Com muita alegria noticio que o Rufar dos Tambores 500 inaugura uma nova fase.

Agora ele está hospedado no site .net, onde concentrarei todas as ações - inclusive a de mandar este aviso de nova crônica.

Leia o texto de hoje "Virando a página" em http://rubempenz.net/virando-a-pagina/ 

Aos poucos convidarei a todos para aceitarem a assinatura por lá. Quem desejar, já pode fazê-lo em NEWSLETTER RSS, à esquerda do texto, informando seu e-mail.

Muito grato aos que me acompanham nessas cinco centenas de perseverantes crônicas.

Abraços, bom final de semana,
Rubem

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21.11.12

Coluna do Metro Porto Alegre em 21.11.2012



VIVEMOS NOVOS TEMPOS
Quando liguei para o meu amigo, descobri que ele estava com outra. Mas nem era a primeira ou segunda vez que trocava. Camarada incorrigível.
– Qual o problema? Bem vindo aos novos tempos! Vai me dizer que nunca trocou?
Respondi que não, nunca trocara. Era a primeira e a única desde sempre e, mesmo sofrendo constante assédio, nunca pensara em deixá-la. O nome disso é fidelidade, eu disse. Olha o meu pai: uma até que a morte os separou. Do outro lado da linha ele riu.
– O nome disso é burrice! Você não é fiel, é otário. Um acomodado. Eu conheço todas elas muito bem: gostam mesmo de gente assim. Duvidê-o-dó que a ela faça por ti mais do que as outras vão fazer...
Não era uma questão de mais ou de menos, argumentei. Na realidade, não nutria a menor esperança: no começo, todas parecem ótimas, solícitas, cheias de promessas. Passa um ano ou dois e se tornam muito iguais. Quem vive trocando deveria saber disso melhor do que eu.
– Então? Quer motivo melhor para pular fora rapidinho? Fico só o tempo do bem bom, enquanto eu pareço um troféu, uma conquista. Vivo o momento, sou o máximo!
Troféu coisíssima nenhuma! Mas ele gostava mesmo de se iludir. Não se dava conta de que elas só ligavam para ele quando estava com outra. Depois de conquistá-lo, transformava-se, ele sim (não elas), em apenas mais um. E nem dos melhores. Rola quase um desprezo, eu disse.
– Esqueceu que já andei com a tua, e que fui eu quem a deixou, sabichão?
Pegou pesado, chegamos ao limite. Ninguém mudaria de opinião. Fiel ou acomodado, continuo com a mesma operadora de telefonia celular. Esperto ou iludido, ele continuará trocando. Desliguei.

16.11.12

De volta

Número 499

Rubem Penz

– "Esse foi um caminho sem volta." Sabe quantas vezes ouvi essa expressão? Incontáveis. Já me perguntaram antes: e aí, tem volta? Ora respondi que não, ora que sim – por ter sido trilhado, todo caminho de vida, na teoria, tem volta. O que falta, talvez, seja vontade de voltar. Ou tempo. Ou coragem. Ou esperança. Ou tudo isso. É preciso um motivo muito forte para se pensar em marcha a ré. Pare de rir, estou falando sério, Dolores! Por exemplo, voltar para cumprir o mesmo percurso soa insensato e, talvez, seja mesmo. No retorno, o que está em jogo não é o passado, e sim o futuro. Retroceder é outra forma de avançar, ainda que em sentido oposto. Sacou? Ir até determinado ponto no qual seja possível encontrar novos caminhos se justifica. Eis o problema: esses "novos" caminhos serão trilhas outrora possíveis e não escolhidas. Isso é tenso. Não me interrompa, não terminei... Voltar para resgatar alguém que ficara para trás também parece delirante. A única certeza para quem retorna por alguém é não encontrá-la mais no ponto da separação. Na melhor das hipóteses, uma ou outra pista indicará seu novo deslocamento, certamente diferente do que se supunha. Depois, restaria a dúvida, de parte a parte, sobre a vontade de seguirem juntos outra vez, e em qual direção. Assim, parece que, na maior parte das ocasiões, o mais correto é seguir em frente. Como diz o ditado, Deus escreve certo por linhas tortas e, nas curvas de adiante, sempre haverá a chance de encontrarmos o destino que julgávamos abandonado. Ou a pessoa que ficara para trás. Ou a que correra na frente. Quem sabe tudo isso pode estar bem na sua frente, no exato momento que duvidávamos possível! Entendeu? Novo e velho organizados em um só tempo – o presente. Conclusão: adiante, para trás ou em curva, o essencial é jamais pararmos! Não, não! Não feche a porta, mudei de ideia, mudei de ideia: paradas estratégicas podem salvar nossa vida. São perfeitas para recuperar o fôlego, ordenar os pensamentos, consultar o coração. Não deixam as decisões serem tomadas de cabeça quente. Permitem a reflexão sobre o que passamos, a mensuração da distância percorrida, a calma de um olhar para o horizonte. Por falar em horizonte, veja agora, Dolores, que lindo nascer do sol!

– Adamastor, Adamastor, Adamastor. Estou emocionada, querido. Aliás, seu discurso teria funcionado, com certeza... Anteontem. Agora, some da minha frente!


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14.11.12

Coluna do Metro Porto Alegre em 14.11.2012


NÃO É UM BOM COMEÇO
Velhos manuais de marketing, escritos antes mesmo de o termo virar moda, apregoavam que a venda começa quando o cliente diz não. Sem a negativa, o nome para essa troca de valores por objetos e/ou serviços seria, no máximo, compra. Venda, jamais. Ao final, o resultado pode até ser parecido. Porém, apenas no sim, ambos saem perdendo: cliente sem chance de barganhar ou conhecer outras opções, ao vendedor é sonegada a oportunidade de aprimorar-se com vistas para a próxima transação.
Acontece algo muito parecido dentro dos nossos lares. Educar um filho começa tão somente quando os pais dizem não. Sem a negativa, o nome para essa troca de afetos pode ser qualquer um que se resolva dar: liberdade, direito, prêmio. Para piorar, o resultado também pode soar parecido. Porém, ambos saem da interação sem nenhum aprendizado: à criança é sonegada a chance de lidar desde tenra idade com a noção de limite, enquanto os pais perdem a oportunidade de transmitir valores.
É sempre junto ao universo daquilo que não podemos que estará contido o que podemos; junto do que não devemos que estará o que devemos; do que não precisamos aquilo que precisamos. Tão necessárias quanto as possibilidades são as impossibilidades. Talvez até mais. São os limites que nos moldam e, mesmo para rompê-los, é preciso reconhecer sua existência – ultrapassar o quê, se nada me baliza?
Apesar de sua fama negativa, por assim dizer, o não é a palavra que mais protege. É o termo preferido de nossa consciência, ela que existe para discernir entre o certo e o errado. O não, assim como a dor, são heróis incompreendidos que nos salvam de nós mesmos. O sim, tão belo (tão necessário), desconhece o perigo. Nunca mede as consequências de seu poder.
Tenho filhos e amo seus sorrisos diante dos meus sins. Contudo, sem o interdito firme e repetido, o aprendizado deixaria de acontecer. E, sem ele (sem a transmissão de valores), sei que terão dúvida na hora de dizer não ao que a vida oferece – vendedora às vezes inescrupulosa. Uns ficarão sem conhecer todas as opções, a outra sem a necessidade de aprimorar-se.


9.11.12

De perto


Número 498
Rubem Penz
E a vida o que é?
Diga lá meu irmão
Gonzaguinha
O teórico Antonio Cândido analisando a crônica – gênero literário que está diante de seus olhos – festeja o fato de ela ter um status menor. Chega a afirmar que jamais teremos um Nobel cronista, o que, de fato, a história apenas confirma. Lá pelas tantas, cita que essa característica é muito útil: “E para muitos pode servir de caminho não apenas para a vida, que ela serve de perto, mas para a literatura.”
Pois hoje, repousando os pés no chão depois de sorver a enorme celebração que foi o lançamento da antologia Santa Sede – crônicas de botequim, Safra 2012 (Ed. Literalis), posso afirmar que a inversão do raciocínio também é uma oração verdadeira: a crônica para muitos pode servir de caminho não apenas para a literatura, que ela serve de perto, mas para a vida.
A participação de pessoas com diversas ocupações laborais em oficinas literárias faz surgir, no mínimo, leitores mais qualificados – fato que ninguém contesta. Afinal, trilhar caminhos que nossos melhores escritores já passaram, e estar defrontado com a tarefa de percorrê-los a partir da própria elaboração, desenvolve a capacidade de ler os textos em sua estrutura, desvendando aos poucos as estratégias que muito nos encantam. Mas, boas experiências levam ainda mais adiante.
O patamar seguinte é o de reconhecer-se capaz de produzir literatura, boa literatura, perseguindo o brilho dos grandes astros. Encontrar a voz mais confortável e estendê-la aos limites da criação sem perder-se na pauta. Conhecer a voz do outro e aceitar as diferenças com naturalidade. Mais: maravilhar-se com a diversidade de interpretações sobre um mesmo tema lendo-a como diferente, não melhor ou pior. Apenas outra.
Alcançar esses dois estágios – qualificar a leitura e capacitar a composição – é um bom destino para toda oficina literária. Agora, o caráter confessional e o grau de exposição inerentes à crônica, quando a turma conquista um patamar de confiança mútua, nos faz passar para adiante dessa fronteira. E a Santa Sede tem chegado lá.
Ao cabo de seu terceiro ano, no adeus à terceira turma, depois de estarmos tão perto uns dos outros, afirmo sem medo: concluímos a passagem pela mesa de boteco, além de melhores escritores, pessoas melhores. Sou grato por terem me dito em palavras e gestos, afinal, o que é a vida. Isso é a vida.

7.11.12

Coluna do Metro Porto Alegre 07.11.2012


CIDADE DO BONDINHO ERRADO
O Bondinho do Pão de Açúcar completou 100 anos com festa. Cartão postal do Rio de Janeiro, o simpático teleférico é passeio obrigatório para turistas. Tornou-se parte indissociável da paisagem urbana e marca registrada carioca. Agora, vamos imaginar a hipótese de alguém propor um bondinho nos mesmos moldes na também linda Porto Alegre.
O primeiro impasse seria escolher, entre nossos morros, onde. Por aqui, incrível, já houve abaixo-assinado repelindo a casa de nossa Orquestra Sinfônica e, depois, entraves para “salvar” uma área abandonada de aterro, quase inviabilizando o Teatro da OSPA. Isso indica nossa dificuldade em avizinhar qualquer equipamento da cidade. Enfim, acordado um ponto, tudo estaria resolvido. Será?
Talvez não: chegaria a vez de os ecologistas protestarem contra o suposto abalo ambiental do bondinho de Porto Alegre. Tiraria o sossego de bugios, lagartos, tatus, pássaros e outros animais em seu habitat. Ocupação clandestina e desordenada pode (quer dizer, não pode, mas acontece). Teleférico, não. Mas, imaginemos: os relatórios de impacto ambiental são aprovados. Tudo resolvido. Será?
Talvez não: faltaria definir o modelo de exploração do bondinho. Se privado, é um escândalo – onde já se viu lucrar com a paisagem? Se público, também não pode: o dinheiro do povo é para a educação, saúde e segurança, sempre na penúria. Consórcios público-privados são vistos com desconfiança: tem alguém manipulando os contratos. Mas, superado o novo impasse, será que iria adiante?
Talvez não: vem a vaidade política. Quando um administrador, ou partido, é o beneficiado institucional do empreendimento, todos os demais travam o processo. Ainda há a desconfiança sobre a lisura e a pertinência da iniciativa. Caso alguém resolvesse fazer no peitaço, haveria o risco de um bondinho estático, dependurado, para fazer par com nosso “aeroimóvel”.
Pois, aqui, ao invés das obras, são os projetos inconclusos que completam 25, 50, 100 anos. Preciso citar exemplos? Esperança: descermos já do bondinho travado da discórdia e tomarmos a via das necessárias realizações.


2.11.12

Surpreenda-me

Número 497

Rubem Penz

Surpreenda-me. Foi o que ela disse ao se despedir apressada. À noite comemorariam mais um aniversário do casal e, ano após ano, esse era seu único pedido: surpreenda-me. Mal ela sumiu para dentro do elevador, ele deixou o corpo escorregar com as costas apoiadas na moldura da porta até ficar de cócoras. Mãos na cabeça, cabelo entre os dedos, longo suspiro. Era uma segunda-feira. Sete e meia.

Enquanto trabalhava, ele passou a manhã pensando no assunto. Lembrou-se da vez em que a levou para fazer um piquenique em um descampado na cabeceira da pista do aeroporto. Entre o sanduíche de atum e o iogurte natural com canela, o rugir furioso e prateado das aeronaves tirando fininho. A toalha de mesa sobre a relva se transformou em lençol ao cair da tarde.

Ela passou a manhã envolvida com a análise final de um contrato que seu chefe assinaria no dia seguinte com os chineses. Culminância de quase dois anos de trabalho, três viagens internacionais, várias passagens por Brasília (com direito a sentar com ministro de estado), inúmeras caixas de remédio para enxaqueca.

À tarde, na pausa do café, ele se recordou de quando vendou os olhos dela e a fez adivinhar cada um dos dezessete sabores de uma sorveteria. Em cada acerto, um beijo demorado até a boca ficar quente outra vez – era a vez dele fazer a contraprova. Chamaram tanta atenção dentro do shopping que o gerente nem cobrou a fatura – ficaria por conta da multidão que juntou em roda, todos comprando sorvete. Rendeu até matéria de jornal. Ele guardou o recorte em algum lugar. Onde mesmo?

À tarde, foi ela a encarregada para a coletiva de imprensa. Diante das câmeras e dos gravadores, duelou com deputados que pareciam mais preocupados em auferir vantagens políticas e pessoais sobre o grande negócio que estava por ser firmado. Por vezes precisou segurar a raiva ao escutar loas ao papel do Executivo na transação. Como a criança é bonita, todos querem ser o pai.

Quando a noite chega, ele deixa com o porteiro do prédio um envelope contendo um endereço e o recado "vá de táxi". Diz ao rapaz que apenas entregue a ela sem dizer nada, é surpresa.

Quando a noite chega, ela voa para Brasília urgentemente. Avisa por mensagem eletrônica – surgira um impasse. Prioridade máxima.

Ninguém resta surpreendido.

 


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31.10.12

Coluna do Metro Porto Alegre 31.10.2012


COM VOCÊS, NOSSA SANTA SEDE
Resgatar para os encontros o hábito dos maiores cronistas do Brasil, que deixavam a redação dos jornais em grupo para terminar o dia (ou começar a noite) nas mesas de bar. Eis a proposta fez nascer minha oficina literária & livro Santa Sede, crônicas de botequim, em seu terceiro ano. O que pode parecer esperteza, combinar trabalho com boemia, é, na verdade, muito sério: devolver a crônica ao seu habitat natural – a vida ao rés do chão.
O resultado é mais do que positivo. A soma do ambiente descontraído e rico dos bares, a simpatia dos garçons e o aditivo dos petiscos e das bebidas potencializa a sensibilidade e reforça os laços. Desde os primeiros minutos, já não vemos orientador e alunos: são amigos esmiuçando a existência em cada texto. Enriquecemos nosso repertório com os diversos pontos de vista, ao mesmo tempo em que aprimoramos a técnica.
Por falar em técnica, exploramos várias formas da crônica com base em autores consagrados. Nos temas, cada componente estará obrigado a criar suas linhas seguindo modos que, necessariamente, influenciarão o resultado final. Mesmo os mais experientes veem-se defrontados com desafios constantes para compor e apresentar peças com brilho.
Renovo a turma todos os anos. Desde já, estou selecionando autores para a oficina seguinte, dando prioridade para jornalistas, escritores que passaram por outras oficinas literárias e amigos nos quais identifico potencial. Admiro os cultos, preciso dos criativos, mas dou preferência aos generosos, simpáticos e inquietos. São nove disputadíssimas vagas.
Convite: neste domingo (04/11) lançaremos a Santa Sede - crônicas de botequim, Safra 2012 (Ed. Literalis) na 58ª Feira do Livro. Será no Memorial do RGS, 18h. Turma linda e antologia imperdível. Como nas safras anteriores, deixará saudade.
Para quem não chegar do feriado, temos uma segunda chance ainda mais bacana: segunda-feira à noite (05/11) será a vez de autografarmos lá onde a oficina aconteceu, no Boteco Apolinário – José do Patrocínio, 527. Todos são meus convidados: venham conhecer o livro e o projeto. Sem falsa modéstia, recomendo.



25.10.12

Radical ou moderado?

Número 496
Rubem Penz
Engana-se quem imagina que é fácil, confortável ou ao menos indolor ser alguém moderado. Essa é uma opinião bastante comum entre os radicais:
– Veja, ele não se compromete, não luta. É um frouxo!
Para os que vivem nos extremos, todo moderado é covarde. Fraco, volúvel, inconfiável. Jamais pegará em armas. Seguirá as normas estabelecidas, obedecerá as leis, recuará diante do confronto. Eu, reconhecendo-me um moderado (perdão, bravos), ouso discordar e vou defender a classe. Há muito esforço para habitar o meio termo e conviver em harmonia com os extremistas. Serenidade demanda paciência. Suavidade é a mãe de todas as forças.
Puxando a brasa para cima do muro, o moderado é, na verdade, um corajoso: tem peito suficiente para admitir que pode estar errado e, por isso, se dispõe a ouvir o outro. Quanta bravura demanda essa atitude. Vivemos num mundo em que o homem se acostumou a erguer paredes de proteção, e um delas é a das certezas. Colocar em dúvida suas convicções diante de um argumento plausível é implodir a barreira para, assim, expor-se. Contemporizar.
Também é comum confundir a política de não agressão com fraqueza. Cordialidade nunca foi sinônimo de subserviência. Ninguém mais é santo para oferecer a outra face diante da bofetada: basta estar atento aos sinais que precedem a violência e agir antes, de preferência. Ao menos em tempo de evitá-la. Assim como negar um cigarro é mais fácil para quem não fuma, impedir a desavença antes de o mal estar ser instalado sempre funciona.
Na maior parte do tempo, combate quem se sente ameaçado. Isto é, agride quem teme por algo como, por exemplo, parecer diminuído diante do outro – diante da altivez de quem prova ser capaz de abrir-se ao diálogo sem erguer a voz. É quando o moderado exercita sua capacidade de escutar, compreender, manter-se acessível. Todo radical, não importa a causa, ouve apenas a si mesmo. E, ainda assim, ouve mal, pois vive acusando os outros de tomar atitudes iguais as dele.
Claro que o mundo precisa da ação dos radicais. Neles está o estopim de grandes e importantes mudanças na sociedade. Por vezes, imolam-se pela bovina coletividade. Rompem paradigmas e viram a página da História. Porém, para cada dia de conflito, há mil outros de negociações. Assim, salto em defesa dos que comandam a paz. Vida longa aos moderados, homens e mulheres de muito valor e que raramente ganham estátua na praça.

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24.10.12

Coluna do Metro Porto Alegre em 24.10.2012



INTELECTUALIDADE MÓRBIDA
Tenho cá minhas dúvidas se a medicina já catalogou essa patologia que chamarei de intelectualidade mórbida. Porém, há quem apresente sintomas do distúrbio, como arrogância crônica, mau humor e desprezo pela opinião alheia. Segue uma luz sobre o tema.
Intelectual mórbido gosta de ler. Óbvio, quem não gosta? Mal está com um livro nas mãos, já está pensando no próximo. Contudo, acumula conhecimento em desproporção com sua capacidade de compartilhar, o que faz dele alguém cada vez mais pesado. Vira o sabe-tudo e, em casos agudos, preconceituoso. O que era para ser libertador torna-se prisão.
A intelectualidade mórbida também faz muito mal ao coração. Fica difícil amar quando se está intoxicado pela complexidade humana. Quanto mais dela, menos espaço sobra para fluir a inocência dos sentimentos, a pureza das intenções. Isso faz crescer a pressão, exigindo do outro muito esforço para conquistar empatia, desejo, compaixão. Intelectual mórbido não se doa. Compete, desconfia, é impaciente. Na balança, o desencanto.
O SUS não ampara em seus procedimentos quem sofre de intelectualidade mórbida. Nem adiantaria, mesmo. Intelectual, mórbido ou não, só procura o serviço público de saúde no desespero – como acreditar nesse tipo de gestão? Descrença, aliás, é outra consequência da hipertrofia patológica da razão. Se um dia a pessoa teve alguma fé, religiosa ou na humanidade, ela foi sufocada por grossas camadas de pragmatismo.
Um aviso: em nenhum caso é recomendada cirurgia de redução de cérebro. A cura para esse mal passa por educação alimentar e mudança de hábitos. Primeiro, mesmo contra a vontade, há que se consumir alguma dose de frivolidades. A arte, na superfície, contém fibras: alimenta pouco, mas ajuda na formação do bolo (evito aqui a palavra que me veio). Paralelamente, mexer-se. Ir até o ponto de vista do outro, próximo ou distante, emagrece o ego enquanto tonifica a humildade.
Previna-se da intelectualidade mórbida. A inteligência bela e saudável é leve, flexível, aeróbica. Há exemplos assim para serem seguidos dentro e fora da Academia. E, aproveitando a abertura da Feira do Livro, comecemos com doces caminhadas na Praça da Alfândega.

19.10.12

Duas oportunidades para a Santa Sede


Dia 04 de novembro, domingo, 18h, durante a 58ª Feira do Livro de Porto Alegre, autógrafos no Memorial do RGS, 1º andar.



Dia 05 de novembro, segunda-feira, 19h em diante, autógrafos no boteco Apolinário (José do Patrocínio, 527).

De costas para o novo

Número 495

Rubem Penz

Hoje, dentro de um ônibus, sentei-me outra vez num daqueles bancos que ficam de costas para a dianteira do veículo. Não são muitos os que oferecem essa possibilidade, por isso aproveito sempre que posso. Assim é (ou deveria ser) a vida de cronista: sempre que o destino lhe dá uma chance, é bom olhar a cena cotidiana por outro ângulo.

Para quem ainda não experimentou, descrevo algumas sensações, a começar pelas físicas: quando o ônibus freia e todos se projetam para frente, quem está de costas cola no banco. E, ao contrário, ao acelerar, é você quem precisará segurar o corpo. Além disso, os demais passageiros estarão mais preparados para as mudanças bruscas de direção (quebra de esquina ou desvios), enquanto você gozará de inúmeras surpresas, sacudindo um pouco mais para os lados.

Há também diferenças que muito me aprazem: na posição convencional, passo o tempo inteiro visando cocurutos. Cocurutos ruivos, morenos e grisalhos. Lisos, crespos, pixains. No máximo, vemos um perfil ou dois, quando há passageiros conversando ou olhando para fora da janela. Já no banco invertido, não. Fico olhando para os rostos dos companheiros de viagem. Saberei se é bonita a loirinha que entrou no recente ponto, medirei o belo sorriso da mulata, ficarei comovido com a candura de uma criança no colo da avó. Os marmanjos são paisagens fora do foco, claro.

Quando a linha em que estou atravessa grandes avenidas, e elas estão pouco movimentadas, o motorista costuma ficar menos prudente, pisando fundo. É o momento em que quem está de costas parece ser aquela câmera que filma a montanha russa: todos com cara de espanto ou apreensão. Divertido. E, na freada mais brusca, o medo transparece, para logo guiar os olhos em busca da explicação para a manobra.

Por falar em filmagem, se acontecer o deslocamento no fim de tarde, a vista da janela me leva de volta para a obra Koyaanisqatsi, cuja trilha sonora de Philip Glass poderia embalar qualquer uma de nossas entrópicas metrópoles. Quando de manhã, na cálida luz de um sol ameno, sou transportado para a infância: proponho a mim jogos como os de contar quantas mulheres vestem saias nos carros que nos ultrapassam, quem tamborila música no volante, quais transbordam o tédio pelo para-brisa.

Hoje, quando sentei de costas para a dianteira do ônibus, me perdi nos óculos escuros de uma bela moça, bem diante de mim. Em determinado momento, ao seu lado, esteve uma jovem mãe que ofereceu o seio ao filho. No mesmo banco que eu, uma senhora reclamou bastante daquela posição invertida em que estávamos. Apenas respondi que gostava, e pensei: que outro lugar me daria vista mais afável? Ela praguejou um pouco mais e mudou de lugar, ficando lá, de frente para mim e de costas para o novo.


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17.10.12

Achado não é roubado

Não sou mais aquele. Tampouco menos.

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Coluna do Metro Porto Alegre em 17.10.2012



NOSSA ALMA NOS NEGÓCIOS
Hoje é o Dia Nacional do Profissional de Propaganda, espécie de arauto das marcas e produtos. Homens e mulheres que dedicam seu saber, sua sensibilidade, criatividade e perspicácia em favor dos clientes. Artistas. Com isso, algumas vezes, extrapolaram os limites do comercial, quando não do próprio objeto ou serviço oferecido, para conquistar um espaço cativo em nossos afetos.
Guardo, por exemplo, profunda saudade dos comerciais do Carlton, mesmo odiando cigarros. A malícia de associar a marca ao mundo elegante e idílico de seus filmes e anúncios era indiscutível e, óbvio, discutível. Mas a beleza, sem dúvida, um raro prazer. Ainda no universo fumante, lembro-me de outro: o fino que satisfaz. Era o bordão do Chanceller 100, mas eu dizia se referir a mim, sempre magrinho – segue valendo! E é impossível falar de cigarro sem citar o comercial que virou Lei: Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Horrível. Ótimo.
A simpatia e criatividade fez com que eu decorasse os ingredientes do Chokito e do Big Mac: comerciais bem bolados e executados. Indeléveis. A Coca Cola é outra que sempre investiu muito, e bem, em reforço de marca: é isso aí! E guardo com carinho os jingles dos guaranás Frisante Polar, da infância, e Antarctica com pizza e com pipoca. Líquida e certa foi a influência dos comerciais do Campari: gostava do bíter e, com ele, só eu era assim... Mas, nós viemos aqui pra beber ou pra conversar?
Em tempos duros, a liberdade já foi uma calça velha, azul e desbotada – outro exemplo de comercial que superava o produto e falava de todos nós. Na mesma linha, ainda hoje, no final do ano, desejo que tenhamos um novo tempo, de um novo dia que começou. De preferência, voando na Varig, a jato como o Papai Noel. Sim, sou saudosista mesmo sabendo que o tempo passa, o tempo voa, e o Bamerindus não existe mais, nem a poupança é “imexível”.
Primeiro sutiã, Brastemp, Bombril... Sou grato aos publicitários por dotarem de muita graça e encantamento minhas recordações. Ainda que faça ponderações contra o consumismo exacerbado – e quem me conhece sabe disso –, tenho orgulho de estar em um país que, ano após ano, conquista prêmios internacionais em Publicidade e Propaganda. São profissionais que nos oferecem segundos de encantamento. Fazem história. Por falar nisso, você já viu o último filme da Panvel?


12.10.12

Ditador em pele de democrata

Número 494

Rubem Penz

Quisera fosse simples assim: um ditador governa em período de ditadura e um democrata em tempos de democracia. Então, bastaria saber se num lugar existem eleições livres (diretas ou indiretas) para reconhecer que espécie de mandatário define os rumos da sociedade. Ao menos no campo político, é claro. E nem preciso entrar no mérito ideológico, pois ditaduras de direita ou de esquerda são, na essência, regimes de força. Mas nada é simples.

Eleger-se pelo voto faz de alguém um democrata? Provavelmente, mas não é certo que sim. A eleição, toda eleição, é uma aposta, um cheque em branco. Depois, dependendo de como o vencedor lida com o poder, suas atitudes podem transformá-lo num perfeito ditador. Toda comunidade corre o risco de eleger um desses, inebriada por discursos bem montados e promessas falaciosas.

A primeira nuance que diferencia um democrata de um ditador em tempos de democracia é a noção de comando: quem está a serviço de quem. Os democratas reconhecem que contraíram uma dívida a ser amortizada durante o mandato. Comprometeram-se com um plano de governo, com um viés ideológico, com metas a serem cumpridas ou, ao menos, perseguidas. Enfim, mais obedecem.

Os ditadores, não: sentem-se ungidos pelo divino voto e elevados ao patamar supremo. Do alto, prendem e deixam fugir, decretam e revogam, fazem e acontecem. Os fins justificam os meios e, no fim, o justo é o que eles pensam ser assim. O contraditório fica esquecido na gaveta, ou é varrido pelos garis junto com os restos mortais da campanha. Enfim, mais mandam.

Mas, nem é isso o que mais distingue um ditador e um democrata. É o apego. Todo ditador eleito sublima o fato de ser ele um temporário. Quer ficar. Então, desde os primeiros momentos, enfraquece os adversários e se cerca de caudatários. Qualquer ser pensante deve estar longe. O menor senso crítico deve ser abafado. Toda discórdia será traição. Enquanto isso, o verdadeiro democrata mede sua influência e, pensando no legado, cedo prepara a sucessão.

Empresas privadas, mesmo as constituídas por uma sociedade limitada, podem ser comandadas por ditadores ou por democratas – sem urnas, mas ao estilo. Os diretores que centralizam as decisões, que promovem medíocres e colocam suas melhores mentes no cabresto são ditadores. Por outro lado, quem tem facilidade de formar colegiados e grupos de trabalho, delega e cobra com o mesmo respeito com que aceita críticas. E, claro, sabe que não será eterno. Por isso, comanda democraticamente.

Acabamos de passar por mais um teste das urnas. Tomara que a sensibilidade coletiva tenha conseguido diminuir o domínio dos ditadores e fortalecer a instância dos democratas, afastando os lobos em peles de cordeiro. Poder existe para ser repartido e domado, jamais concentrado e desmedido. Erros e acertos acontecem em todos os governos. Humildade, apenas em alguns.

Boa sorte aos eleitores. Boa sorte aos eleitos!

 


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10.10.12

Coluna do Metro Porto Alegre em 10.10.2012


SORRISO: A PRIMEIRA MANCHETE DO METRO
Os motoristas que circulam pela Anita Garibaldi cedo da manhã encontram, ao chegar na esquina com a Carlos Gomes, um bom motivo para abrir a janela do carro: o sorriso de Geórgia, promotora do Metro Porto Alegre. Já ouvira falar dela e a conheci semana passada – um espetáculo à parte. E, citando-a, estou homenageando as dezenas de profissionais que alcançam nosso jornal para os leitores com muita simpatia e zelo.
Engana-se quem imagina ser esse um trabalho simples. Em poucas horas, quase mil jornais (quando esse número não é ultrapassado) trocam de mãos com a rapidez e sincronismo do bastão no revezamento 4X100 olímpico – o que transforma a tarefa em um misto de prova de velocidade e de fundo. Uma maratona no maior pique. A vitória é atender ao olhar ansioso de quem conta com a notícia ali ofertada, pois, assim como no mundo, o maior jornal em circulação já é uma tradição na cidade.
Especialmente, fiquei muito feliz em constatar a consciência dos promotores com relação à importância de seu trabalho. A presteza com que atendem a todos se irmana à urgência da notícia, essência do jornalismo. Eles são o derradeiro elo de uma enorme corrente de profissionais. E contam com o privilégio de travar contato com o leitor, olho no olho, colhendo suas impressões e conquistando sua fidelidade. Sim: seja na banca ou nas esquinas, escolhemos nossos preferidos para apanhar um jornal.
Vejo em atos quase instantâneos como a troca de olhares para que o Metro mude de mãos uma oportunidade para o espaço urbano manter viva a civilidade, a humanidade, a cidadania. Uma fresta para escaparmos do ensimesmado e competitivo trânsito, uma lufada de frescor em meio ao sufoco da metrópole. A chance de sermos gente falando com gente, e não operando máquinas ou escutando mensagens ditando procedimentos previamente programados. Um bom dia ao vivo, mesmo no átimo do semáforo, vale mais do que se imagina.
Desde a semana passada, ganhei um motivo a mais para dedicar carinho e atenção às linhas da coluna. Já tinha muitos: a responsabilidade de ocupar esse espaço nobre, o contentamento de fazer o que escolhi como profissão, o desafio de estar à altura dos leitores e a certeza de que posso, em algum momento, ser útil ou importante na vida das pessoas. O mais recente é ofertar aos promotores a segurança de que capricho na minha parte: seus sorrisos jamais serão em vão. Eles espelham o meu também.


5.10.12

Titanic

Número 493

Rubem Penz

Falsa paz submarina. Jaz entre os corais,

num barco submerso, o que não confesso.

Fátima Guedes

Ao deixarem o cais, quando da derradeira viagem, já formavam um casal tendendo à decomposição. Apodreciam por dentro, pelas vísceras do amor – nunca nada esteve exposto à flor da pele. Mas havia outros sentimentos em jogo. Integridade. Quase uma fleuma. Só sofriam em suas companhias. A sós, por sua vez – ou cada um por si –, resgatavam a alegria que nunca perderam.

Por isso tanta frieza, pose, paciência. Mar do Norte. Sem gelar os corpos, sem solidão ou silêncio, o processo de putrefação iria até o ponto de toda carne estar fétida. Hálito de cemitério, falência dupla, múltipla, explícita. Eles sofriam de um câncer anímico. Célula matando célula em consumo interno. Conservados. Abaixo do zero.

Falíveis, falharam. Está a folhas tantas do diário de bordo, página que nem buscam encontrar. Mas podem. Lá consta e a caligrafia denuncia. Repartir culpas já não consola. Desejá-las apenas para si não elucidaria nada, principalmente quando as explicações perderam a faculdade do resgate individual ou mútuo. Denunciar o outro, enfim, ou desfilar o rosário de queixas, afoga a razão.

E tudo é razoável, mesmo fora do plano. Futuro? Passo... Amargo, caro, intransferível. A memória muito sonega porque poucos sobreviveriam a uma minuciosa auditoria. Promissórias para um horizonte pouco alvissareiro. Iceberg. Mas o saldo em Celsius negativo suspende as promessas pré-datadas. Uma saída é buscar a recíproca dádiva: perdoarem-se a dívida. (A)moratória.

Uma força insuspeitada mantém de pé o castelo de cartas em meio ao naufrágio. Estranho equilíbrio entre passado e presente. De um lado, ouro e copas. De outro, espadas e paus. E pedras, fim do caminho. Boiam os restos de tocos. Poucos. Sozinhos? Não: irmanados por uma consciência pesada leve. Liquidez. Fundo pedido.

Por dentro tudo se precipita. De fora parece lento. É de se supor: um transatlântico não vai a pique de repente. A orquestra não parou. Nem todos estão a salvo. Nem tudo está perdido. Já foram os anéis, conta-se com os dedos. Dado momento, dão-se as mãos. Irmãos. Daqui a pouco darão adeus. O desejo não mais respira, afogado nos porões. Descartada a esperança boca a boca.

Frio. Manter-se frio. Levar-se a salvo, salva-vidas. O que há de carente ficará pelo caminho, desde que no tempo certo. Dor suportável. Era. Homens ao mar! O sempre se foi para sempre ser.


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3.10.12

Coluna Metro Porto Alegre em 03.10.2012

CEBOLINHA: ESSE PLANO NÃO VAI DAR CERTO
Passei a infância inteira acompanhando os planos infalíveis do Cebolinha para derrotar a Mônica. E, seja por solidariedade masculina, seja por admirar quem encarna a mais vã esperança, torci por eles em cada uma das histórias. Porém, nenhuma das mirabolantes criações dos meninos (sim, havia sempre o Cascão para ser o coadjuvante) foi capaz de suplantar a força da heroína dentuça.
Recordo disso porque soube que Maurício de Sousa prometeu uma data para o casamento de Mônica e Cebolinha. Um destino a ser adivinhado por quem acompanha a série de desenhos destes personagens dirigida ao público teenager – tenho na memória a polêmica revista na qual os dois, jovens, trocaram o primeiro beijo. Enfim, mais ou menos o que aconteceu com os (ex) implicantes Hermione e Rony na saga Harry Potter, marido e mulher ao final.
Agora, se isso for mais um dos planos do Cebola (seu nome na versão crescida) para vencer a Mônica, tenho uma má notícia: não vai dar certo. Talvez ele tivesse sucesso nos longínquos anos 1960, quando as personagens saíram do lápis do criador para ganhar o mundo. Na época, a autoridade masculina predominava na composição familiar. Vivíamos o tempo do pai provedor e da mãe dona de casa – papéis expressos nas próprias tirinhas do bairro do Limoeiro.
Os tempos são outros. As “Mônicas” que ousavam ser donas da rua durante a infância, hoje também são donas do próprio nariz – no mínimo. Viram suas mães exercendo o intangível controle sobre os maridos pelos fios do sentimento (maneira de deixar o jogo parelho) e almejaram mais. Para elas, já não bastam os afazeres domésticos ou a maternidade: dominam desde o mercado de trabalho aos destinos da República. Os “Cebolinhas” piam cada vez mais fino.
Mas, se, ao contrário, o “sim” no altar for um armistício (para não dizer uma rendição), aí o rapaz pode estar agindo com esperteza. Alguns homens já perceberam que nosso projeto vencedor está muito mais parecido com as antigas estratégias femininas. Nada de confronto: contornos. Nada de violência: carinho. Nada de autoridade: cooperação. Nada de controle: liberdade.
Pois é, Cebola... Ter para si o coração da Mônica pode valer mais do que qualquer outro domínio que ela – elas? – tanto perseguem. Mesmo que o casamento esteja longe de ser um plano infalível. Quanto ao Cascão, por favor: nessa história, seja no máximo padrinho. Senão é avançar demais com a carruagem.


28.9.12

Sílabas não são gametas

Número 492

Rubem Penz

É muito comum ao olhar para uma criança vermos a testa do pai combinada com o queixo da mãe, a orelha da avó e o sorriso da tia. Ou, em certos casos, olhos amendoados em inspiração oriental e, ao mesmo tempo, claros como só o ocidente produz. Ainda mais bacana: ser fisicamente parecida com a mãe, mas herdar o gênio do pai. É o que acontece quando os gametas geram uma nova vida, colhendo rastros do passado ao mesmo tempo em que seguem novos caminhos.

Por isso, gastamos nosso charme escolhendo parceiras bonitas (na verdade, sendo escolhidos por elas). A lógica é: se ela assenta com meu gosto, essa combinação funcionará bem com a prole. Porém, a mesma sorte não apresentam os nomes próprios. Pais inspirados na união semântica para compor a alcunha dos filhos correm o risco de compor aberrações, tudo muito bem intencionado. Sílabas, por mais que se queira forçar a relação, não casam necessariamente.

Se o garboso Mário resolve combinar seu nome com a amada Otília, pode nascer a Marília. Lindo, não? Mas, em nova gravidez, pode vir um Otário, quem sabe uma Matília – ou ambos, se forem gêmeos. Que perigo! Quando a bela Denise escolhe como par seu querido Marcos, a filha pode ganhar o exótico, mas ainda bem decente nome de Marise. Porém, um escorregão na criatividade e ela pare uma Marquise. Ou um Demarcos: basta uma apóstrofe e vira nome de restaurante...

Pois esse espírito de criatividade baseado em combinações parece ter incorporado na FIFA. O pessoal já sinalizava certo afã em surpreender quando desprezou as araras, papagaios, saguis ou tucanos – olha que perigo! – para ser o animalzinho símbolo da Copa do Mundo. Nada que fosse fácil e direto como um Brasil lindo e trigueiro cantado em imagens exuberantes por todas as agências de turismo do planeta pareceria correto. Daí vem o Tatu Bola que, vá lá, traz a gorduchinha na própria alcunha. Já me acostumei.

Porém, combinar conceitos em forma de sílabas de palavras como ecologia, júbilo, amizade, azul ou amarelo para formar o nome do mascote foi demais. E deu no que deu: Amijubi, Fuleco e Zuzeco. Enquanto nos Cartórios Civis de Registros de Pessoas Naturais já existe uma orientação para evitar o futuro vexame com Zigomires, Airtomélias, Lupolenos, Anastélios (ou qualquer esquisitice que pretenda representar a união dos pais para além da genética), na FIFA esse bom senso nem foi cogitado.

Há quem tente evitar o pior. Outros dizem que a entidade já registrou os três nomes em todo o mundo para garantir o ganho monetário. Enfim, pouco ou nada adianta eu protestar – o filho não é meu e não tenho nada com isso. Mas, depois, se o pobre Tatu Bola sofrer bulliyng, não foi por falta de aviso!

 


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26.9.12

Coluna do Metro Porto Alegre em 26.09.2012


CINDERELA, O PRÍNCIPE E O FINAL FELIZ
Era uma vez Cinderela, uma gata borralheira que, depois de ficar órfã, foi tiranizada por sua madrasta e filhas – todas invejosas de sua formosura. Rebaixada ao papel de criada, tinha nos animaizinhos seus únicos amigos. Mas, ao contrário do que se possa crer, conservava sua beleza e alto astral (seria o caso de aproveitar esse gancho para uma campanha publicitária desses novos e milagrosos produtos de limpeza).
A história mudou de rumo quando o Rei e a Rainha marcaram um baile para desposar o encantador filho – ele que, por romântica teimosia, relutava entre candidatas políticas. À época, fique o registro, era com alianças no altar se faziam alianças, e não com cargos ou ministérios. A madrasta, temendo pelo insucesso das filhas, boicotou a ida de Cinderela. Contudo, não contava com uma Fada Madrinha para garantir a presença da bela. À época, fique o registro, apadrinhamento já fazia a diferença.
O Príncipe – nossa! – surtou quando Cinderela entrou no salão. Era deslumbrante: cabelo, joias, maquiagem, lingeries, vestido e um incrível sapatinho de cristal. Aliás, um pezinho dele foi o que restou para trás quando bateu meia-noite e o encanto se desfez. A borralheira voltou para seu cubículo imundo e a vida continuou muito dura.
Porém, com o sapatinho nas mãos, desconsolado, o nobre decidiu reaver o que parecia perdido. Varou o reino em sua cruzada, fazendo a carruagem estacionar em cada endereço. Chegando à casa da madrasta, as feiosas esconderam Cinderela no sótão. Astuto, um ajudante real viu a moça na janela, resgatando-a. E, num passe de mágica, quando vestiu o pezinho dela com o sapato perdido, o outro pé apareceu! Que alegria!
O Príncipe deixou a casa levando, enfim, o par completo – mereceria destaque em seu closet. Antes, é claro, pagou para Cinderela um bom preço por ele e, ainda, deu-lhe o cartão do advogado do reino para que ela colocasse a madrasta na Justiça do Trabalho – havia sinais claros de exploração de menor, trabalho escravo, insalubridade, nada de horas extras ou férias remuneradas. Um horror!
Com a indenização, Cinderela abriu um atelier com a Fada e passou a vestir toda a Corte, a começar pelo Príncipe: marco no nascimento e ascensão da burguesia e da mulher independente. Ao final, todos, menos a madrasta, viveram felizes para sempre.