SE MEU FUSCA FALASSE
Quem gosta de motores e automóveis espera para qualquer momento uma morte anunciada: para breve, o tradicional motor à explosão dará lugar a um novo, alimentado por energia alternativa ao petróleo (ou mesmo ao álcool). Enquanto isso não ocorre – só Deus sabe o jogo de forças econômicas envolvidos nesse imbróglio –, a singeleza de pistões para cima e para baixo já esconde uma infinita revolução silenciosa, levemente sinalizada a cada temporada da Fórmula 1. Fora do “circo”, a face perceptível do fenômeno é uma nova carapaça cobrindo os motores, abaixo da tampa do capô. E, diante dela, um motorista absolutamente refém das novidades, quase todas de caráter eletrônico.
Hoje, quem abre o cofre do motor só vê a vareta do óleo, as tampinhas dos reservatórios de água e, com sorte, a bateria – selada, é claro. Tudo mais está coberto, num claro sinal de que, em caso de pane, não adiantará nada fuçar. Nem sempre foi assim... Nos velhos tempos em que a grande piada era perguntar ao incauto onde estava o radiador do Volkswagen Sedan, as peças do motor eram mais escancaradas do que umbigo de vedete (para ficar em um ditado contemporâneo). Lá estavam as velas, o alternador, o carburador, o distribuidor, todas as correias, as buchas, um mundo pronto para ser explorado por olhos, mãos e mentes curiosas. Um motorista cuidadoso checava uma série de itens como, por exemplo, o nível da água da bateria: sim, chamávamos o fluido de água mesmo. Pior (ou melhor, depende): em caso de necessidade, bastava completar o segmento da bateria com água da torneira que funcionaria também.
Os fanáticos faziam muito mais: escolhiam um final de semana sem grandes passeios para desmontar e limpar o carburador. A função começava no sábado, com a escolha do jeans e camiseta mais velhos. Passava pela caixa de ferramentas e terminava, com sorte, no domingo à tarde, lavando um carro que dava partida. No meio disso, minúsculas pecinhas se encontravam no fundo de latas de solvente, entre uma esfregadela e uma escovada, esperando a hora de voltar ao local de origem. Nesses dias, eu era o amigo curioso que ficava ao lado, peruando e pensando que o carro tinha muita sorte de não depender de mim para voltar à vida. O máximo que fiz até hoje foi trocar eu mesmo o óleo, completar fluido de freio, secar o distribuidor (nos velhos tempos) e trocar fusíveis. O restante, sempre preferi delegar aos profissionais.
Com a eletrônica em alta, pena de quem gosta de mecânica. Ou compra um kart, um fusca ou outro dinossauro sobre rodas, ou se contenta em assistir programas sobre o tema na TV. Hoje basta apenas conhecer o número do guincho ou da seguradora. Os motores estão com auto-suficiência tamanha que, creiam, adaptam-se aos motoristas. “Aprendem” como o dono guia o carro e fazem as compensações necessárias para obter o melhor resultado. Estranham até quando se muda o fornecedor de combustível, acusando a traição – assemelhando-se perigosamente com as esposas. (Não reclamem, meninas: o tema pedia ao menos uma observação machista.)
Não é só: tem automóvel que não liga enquanto o motorista está sem cinto de segurança. Outra novidade é o carro equipado com “bafômetro”: rodou no teste, ficou parado. Do jeito que a coisa vai, alguém terá a idéia de equipar o computador de bordo com um sistema karaokê. Nele, ao chegar no destino, o piloto receberá uma nota. Cinco e meio, por exemplo. E ficará a angústia: onde eu errei a passagem de marcha? Esqueci de ligar o pisca? Não dava para ficar em quarta ladeira acima? Ou, ainda pior, um automóvel meio Big Brother, com um software impertinente e que falará com o motorista: “Você já foi mais suave nas curvas, não? O banco está muito reclinado – olha a coluna! A troca de óleo está atrasada duzentos e oitenta quilômetros...” Sim, DR em pleno engarrafamento. Duvida?
Quem gosta de motores e automóveis espera para qualquer momento uma morte anunciada: para breve, o tradicional motor à explosão dará lugar a um novo, alimentado por energia alternativa ao petróleo (ou mesmo ao álcool). Enquanto isso não ocorre – só Deus sabe o jogo de forças econômicas envolvidos nesse imbróglio –, a singeleza de pistões para cima e para baixo já esconde uma infinita revolução silenciosa, levemente sinalizada a cada temporada da Fórmula 1. Fora do “circo”, a face perceptível do fenômeno é uma nova carapaça cobrindo os motores, abaixo da tampa do capô. E, diante dela, um motorista absolutamente refém das novidades, quase todas de caráter eletrônico.
Hoje, quem abre o cofre do motor só vê a vareta do óleo, as tampinhas dos reservatórios de água e, com sorte, a bateria – selada, é claro. Tudo mais está coberto, num claro sinal de que, em caso de pane, não adiantará nada fuçar. Nem sempre foi assim... Nos velhos tempos em que a grande piada era perguntar ao incauto onde estava o radiador do Volkswagen Sedan, as peças do motor eram mais escancaradas do que umbigo de vedete (para ficar em um ditado contemporâneo). Lá estavam as velas, o alternador, o carburador, o distribuidor, todas as correias, as buchas, um mundo pronto para ser explorado por olhos, mãos e mentes curiosas. Um motorista cuidadoso checava uma série de itens como, por exemplo, o nível da água da bateria: sim, chamávamos o fluido de água mesmo. Pior (ou melhor, depende): em caso de necessidade, bastava completar o segmento da bateria com água da torneira que funcionaria também.
Os fanáticos faziam muito mais: escolhiam um final de semana sem grandes passeios para desmontar e limpar o carburador. A função começava no sábado, com a escolha do jeans e camiseta mais velhos. Passava pela caixa de ferramentas e terminava, com sorte, no domingo à tarde, lavando um carro que dava partida. No meio disso, minúsculas pecinhas se encontravam no fundo de latas de solvente, entre uma esfregadela e uma escovada, esperando a hora de voltar ao local de origem. Nesses dias, eu era o amigo curioso que ficava ao lado, peruando e pensando que o carro tinha muita sorte de não depender de mim para voltar à vida. O máximo que fiz até hoje foi trocar eu mesmo o óleo, completar fluido de freio, secar o distribuidor (nos velhos tempos) e trocar fusíveis. O restante, sempre preferi delegar aos profissionais.
Com a eletrônica em alta, pena de quem gosta de mecânica. Ou compra um kart, um fusca ou outro dinossauro sobre rodas, ou se contenta em assistir programas sobre o tema na TV. Hoje basta apenas conhecer o número do guincho ou da seguradora. Os motores estão com auto-suficiência tamanha que, creiam, adaptam-se aos motoristas. “Aprendem” como o dono guia o carro e fazem as compensações necessárias para obter o melhor resultado. Estranham até quando se muda o fornecedor de combustível, acusando a traição – assemelhando-se perigosamente com as esposas. (Não reclamem, meninas: o tema pedia ao menos uma observação machista.)
Não é só: tem automóvel que não liga enquanto o motorista está sem cinto de segurança. Outra novidade é o carro equipado com “bafômetro”: rodou no teste, ficou parado. Do jeito que a coisa vai, alguém terá a idéia de equipar o computador de bordo com um sistema karaokê. Nele, ao chegar no destino, o piloto receberá uma nota. Cinco e meio, por exemplo. E ficará a angústia: onde eu errei a passagem de marcha? Esqueci de ligar o pisca? Não dava para ficar em quarta ladeira acima? Ou, ainda pior, um automóvel meio Big Brother, com um software impertinente e que falará com o motorista: “Você já foi mais suave nas curvas, não? O banco está muito reclinado – olha a coluna! A troca de óleo está atrasada duzentos e oitenta quilômetros...” Sim, DR em pleno engarrafamento. Duvida?
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