DEBAIXO DO NARIZ
Quem mexe os invisíveis cordões da moda, das tendências, do comportamento? Boa pergunta... Uma teoria é a de que esses movimentos estão sujeitos às deliberações efetuadas em reuniões seletas, em andares altíssimos de edifícios luxuosos em Nova Iorque, Milão ou Paris. Ou, por outro lado, são fruto de disparos aleatórios e pulverizados de tentativa e erro, combinados com pesquisas mercadológicas. Há quem acredite na simpática ideia de inconsciente coletivo. Algo, porém, é consensual: na moda, nas tendências e no comportamento, vale sempre a antiga lei de Lavoisier, na qual nada se cria ou se perde – tudo se transforma.
Por exemplo, em meu pouco tempo de vida, vi as calças alargarem as bocas de suas pernas feito cortinas; depois, retrocederem até quase não passarem os pés e, novamente, ganharem o formato de sino. Na cintura, elas andaram, entre altos e baixos, variando da borda das costelas ao cúmulo de exigir depilação feminina e cuecas de grife. Na minha infância, bermuda era vestimenta de escoteiro: calção de verdade era curtinho como os da Seleção Brasileira de 74. Agora, nada que esteja acima do meio da coxa é aceito por meu filho. Nem preciso entrar no movediço terreno da indumentária feminina, muito mais oscilante e variável, para comprovar a tese de que tudo o que foi moda um dia, fatalmente, retorna.
Vinha faz tempo pensando nas idas e vindas da moda e, duas semanas atrás, lendo uma tirinha em quadrinhos do Recruta Zero, decidi trazer à tona uma inquietação para compartilhar com os leitores. Antes, para quem desconhece as personagens de Mort Walker, apresento quatro delas e suas características: Sargento Tainha, o brucutu, marcado pelo dente inferior acentuado; Dentinho, o tonto, dentuço feito um Ronaldinho; Zero, o desastrado e preguiçoso, com os olhos escondidos, e Quindim, o mulherengo sedutor, com seu indefectível bigodinho. Pois, ao ver o Quindim cercado de gatinhas, algo me estalou: onde andarão os bigodes? Chegará o dia de eles retornarem à face masculina?
Na década de cinquenta do século passado, época em que o Recruta Zero ganhou fama, nada era mais charmoso do que um bigode sutil. Dos astros de cinema, passando por cantores, homens do jetset internacional e, claro, golpistas sedutores, quase todos os bons partidos cultivavam seus bigodes bem aparados. Rapazes de bigode seguiram na paisagem por outras duas décadas – basta lembrar que o desejado Chico Buarque usava bigode. Antônio Fagundes, também. Aliás, lembro de uma série de atores que recorriam ao bigode para variar de rosto conforme a personagem. Os Beatles, antes de aderirem ao visual barbudão, passaram pela etapa bigoduda. E as mulheres se derretiam.
Alguma coisa aconteceu nos anos oitenta para o bigode ver raspado seu status. Freddie Mercury e Village People podem explicar uma parte do fenômeno, mas não todo. Parece que a maior resistência nasceu em quem, tecnicamente, não usa bigodes: as moças. Hoje, se um homem ameaça deixar o bigode crescer, sua namorada, esposa ou companheira logo protesta. Diz que é anti-higiênico, feio, cafona. Proíbe! Será que parte da crise de papéis e de identidade masculina é causa (ou consequência) da falta de autonomia com nosso rosto? Está na cara: elas temem algo que o bigode simboliza!
Sei não, acho que o bigode voltará a ser moda a qualquer momento. Em breve, todos os zagueiros usarão bigodes. E os atacantes precisarão deixar os seus crescerem para continuar almejando o gol. Os professores usarão bigodes, e os cantores, os fotógrafos, os jornalistas. Nelson Motta voltará a usar o seu. E Pedro Bial. Isso reverterá a tendência de mulheres poderosas e homens submissos. Será o único freio à hipertrofia dos bíceps da Madonna ‒ bigode, ela usaria? Também assumiremos um comportamento mais audacioso nos jogos de sedução, recuperando a esquecida iniciativa. A força de Sansão estava, quem sabe, no cabelo das ventas!
Nossa, vai ver que no bigode está a explicação do imenso poder de José Sarney... O tempo todo ali, embaixo do nosso nariz! Para ele, Gillette já!
Quem mexe os invisíveis cordões da moda, das tendências, do comportamento? Boa pergunta... Uma teoria é a de que esses movimentos estão sujeitos às deliberações efetuadas em reuniões seletas, em andares altíssimos de edifícios luxuosos em Nova Iorque, Milão ou Paris. Ou, por outro lado, são fruto de disparos aleatórios e pulverizados de tentativa e erro, combinados com pesquisas mercadológicas. Há quem acredite na simpática ideia de inconsciente coletivo. Algo, porém, é consensual: na moda, nas tendências e no comportamento, vale sempre a antiga lei de Lavoisier, na qual nada se cria ou se perde – tudo se transforma.
Por exemplo, em meu pouco tempo de vida, vi as calças alargarem as bocas de suas pernas feito cortinas; depois, retrocederem até quase não passarem os pés e, novamente, ganharem o formato de sino. Na cintura, elas andaram, entre altos e baixos, variando da borda das costelas ao cúmulo de exigir depilação feminina e cuecas de grife. Na minha infância, bermuda era vestimenta de escoteiro: calção de verdade era curtinho como os da Seleção Brasileira de 74. Agora, nada que esteja acima do meio da coxa é aceito por meu filho. Nem preciso entrar no movediço terreno da indumentária feminina, muito mais oscilante e variável, para comprovar a tese de que tudo o que foi moda um dia, fatalmente, retorna.
Vinha faz tempo pensando nas idas e vindas da moda e, duas semanas atrás, lendo uma tirinha em quadrinhos do Recruta Zero, decidi trazer à tona uma inquietação para compartilhar com os leitores. Antes, para quem desconhece as personagens de Mort Walker, apresento quatro delas e suas características: Sargento Tainha, o brucutu, marcado pelo dente inferior acentuado; Dentinho, o tonto, dentuço feito um Ronaldinho; Zero, o desastrado e preguiçoso, com os olhos escondidos, e Quindim, o mulherengo sedutor, com seu indefectível bigodinho. Pois, ao ver o Quindim cercado de gatinhas, algo me estalou: onde andarão os bigodes? Chegará o dia de eles retornarem à face masculina?
Na década de cinquenta do século passado, época em que o Recruta Zero ganhou fama, nada era mais charmoso do que um bigode sutil. Dos astros de cinema, passando por cantores, homens do jetset internacional e, claro, golpistas sedutores, quase todos os bons partidos cultivavam seus bigodes bem aparados. Rapazes de bigode seguiram na paisagem por outras duas décadas – basta lembrar que o desejado Chico Buarque usava bigode. Antônio Fagundes, também. Aliás, lembro de uma série de atores que recorriam ao bigode para variar de rosto conforme a personagem. Os Beatles, antes de aderirem ao visual barbudão, passaram pela etapa bigoduda. E as mulheres se derretiam.
Alguma coisa aconteceu nos anos oitenta para o bigode ver raspado seu status. Freddie Mercury e Village People podem explicar uma parte do fenômeno, mas não todo. Parece que a maior resistência nasceu em quem, tecnicamente, não usa bigodes: as moças. Hoje, se um homem ameaça deixar o bigode crescer, sua namorada, esposa ou companheira logo protesta. Diz que é anti-higiênico, feio, cafona. Proíbe! Será que parte da crise de papéis e de identidade masculina é causa (ou consequência) da falta de autonomia com nosso rosto? Está na cara: elas temem algo que o bigode simboliza!
Sei não, acho que o bigode voltará a ser moda a qualquer momento. Em breve, todos os zagueiros usarão bigodes. E os atacantes precisarão deixar os seus crescerem para continuar almejando o gol. Os professores usarão bigodes, e os cantores, os fotógrafos, os jornalistas. Nelson Motta voltará a usar o seu. E Pedro Bial. Isso reverterá a tendência de mulheres poderosas e homens submissos. Será o único freio à hipertrofia dos bíceps da Madonna ‒ bigode, ela usaria? Também assumiremos um comportamento mais audacioso nos jogos de sedução, recuperando a esquecida iniciativa. A força de Sansão estava, quem sabe, no cabelo das ventas!
Nossa, vai ver que no bigode está a explicação do imenso poder de José Sarney... O tempo todo ali, embaixo do nosso nariz! Para ele, Gillette já!
2 comentários:
Olá, parceiro. Pois é eu até que tentei. Mas, já que o bigofe não crescia... Uma boa idéia para um teste quem sabe. Agora que, elas estão ditando comportamentos no todo, ah isto estão.
O artigo de sua autoria, "As Tricheiras da Eternidade" já está no site www.portalviamao.com.br
Roberto,
Escrevi sobre o bigode na base da teoria. Eu também não tenho condições de apresentar um decente...
Abraços,
Rubem
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