26.6.09

Número 323

NOSSOS FABULOSOS PROBLEMAS

Era uma vez um velho chamado Executivo, um menino chamado Legislativo e um cavalo cujo nome era Judiciário. Um dia, Pátria, dona da casa onde moravam os três, pediu que fossem até a cidade para fazer um favor ao Povo, seu filho. Já na partida, foi criado um certo constrangimento: como iriam se portar durante o deslocamento?

No primeiro arranjo, Executivo montou no Judiciário e deixou o Legislativo a pé. Ao passarem por uma vizinha que varria a calçada, foram interpelados com uma certa revolta:

– Executivo, o que fazes aí montado no Judiciário, enquanto o pobre Legislativo está cumprindo o trajeto ao largo, caminhando?
– Ora, não foi nada pensado, minha senhora – respondeu o velho. – Essa forma é apenas uma medida provisória: decidi ficar, assim, acima do Judiciário, e com o Legislativo de fora, só me assistindo.

Quiseram continuar indefinidamente (quer dizer, o Executivo quis), mas a senhora não deixou os três seguirem dessa maneira. Disse que era um escândalo: a posição mais correta para Legislativo seria ali, com o Judiciário lhe apoiando. Enquanto isso, o Executivo, esse sim, andaria com suas próprias pernas. E assim foi feito.

Percorreram mais algumas léguas até chegarem a uma venda. Defronte ao estabelecimento, o proprietário, olhando para a cena, parou o trio mais uma vez:

– Posso saber o que vocês estão querendo, andando aí desse jeito?
– Vamos até a cidade por ordem da Pátria – falou o pequeno Legislativo.
– Mas, menino, como podes ser tão insensível ao deixar o Executivo sem montaria? – quis saber o comerciante.
– É que nos falaram que o lugar do Legislativo é aqui, com o Judiciário. E o Executivo, bem mais forte, pode muito bem andar sozinho.

O homem não concordava. Se não cabiam os dois sobre o animal, que nenhum ficasse com tal privilégio. Além do mais, todos tendo pernas, bem que eles poderiam caminhar juntos, em posição de igualdade. O Judiciário, segundo ele, merecia o mesmo status dos demais. E assim foi feito.

Haviam cumprido mais da metade do caminho, quando passaram por um padre. O sacerdote ficou espantado e, para satisfazer sua curiosidade, perguntou:

– Vocês aí: tendo o Judiciário a lhes servir, como podem desprezá-lo?
– Não se trata de desprezo, seu Vigário – disse o velho. – Ele não parece forte o suficiente para acomodar nós dois.
– E implicam quando um só está com dele – completou o menino. – O senhor pode nos ajudar a decidir a forma ideal para andarmos?

O padre disse que não poderia resolver essa questão. Pastoreava almas, apenas. E, mesmo assim, perdia seu rebanho para os lobos a toda hora.

– Cada um com seus problemas! – falou a autoridade eclesiástica, rumando para o seu templo.

Executivo, Legislativo e Judiciário sentaram-se à beira do caminho. Lembraram que a Pátria esperava que eles ajudassem o Povo. Mas, como só recebiam críticas da opinião pública, sentiam-se paralisados. Foi quando decidiram, a partir dali, cuidar apenas de seus próprios interesses. Azar do Povo que, necessitado, esperava pela liderança do Executivo; pela capacidade de renovação do Legislativo; pela força do Judiciário. Às favas com os pedidos da Pátria! Estamos nos lixando! – foi o brado.

Moral da história: se eles não fizerem nada, a culpa ainda será nossa.





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