O MELHOR DOS MUNDOS
Muito já foi dito sobre a superprodução cinematográfica Avatar. Há quem comente apenas o fantástico senso de oportunidade de James Cameron, abordando o tema ecológico bem no momento em que o assunto esquenta de vez no planeta (com o perdão do trocadilho). Outros destacam a revolução tecnológica desta obra em 3D, promessa de ser divisor de águas para o cinema. Como a história não é nem de longe a primeira a ser ecologicamente correta, além de nascer fadada a ter seus avanços técnicos suplantados em poucos meses, decidi me concentrar naquilo que deu o nome ao filme: os tais avatares.
A palavra avatar vem do sânscrito (avatara) e significa, originalmente, encarnação. Ou, para ser mais específico, o espírito que ocupa um corpo carnal. Por um deslocamento muito curioso, o termo foi adotado na internet para dar o nome à representação pictórica de alguém no ambiente virtual. Isto é, uma desencarnação! Bom, se no induísmo o avatar é deus que vira gente, quando invertemos o sentido, é muito justo que o homem almeje nada além da divindade. Na virtualidade, tímidos ficam extrovertidos, sacanas se transformam em anjos, avaros esbanjam e pobres enriquecem. Ao nosso pequeno deus virtual, tudo é possível.
No caso do filme, os avatares são clones da espécie Na’vi, nome dos nativos da Lua Pandora, criados pelos humanos para encarnarem e, a exemplo da web, despirem-se dos pecados humanos. Afinal, os seres azuis são de uma pureza de dar inveja aos índios românticos! Vivem em perfeita harmonia com o exuberante meio ambiente e não matam uma pulga sem uma finalidade nobre ‒ e, mesmo assim, ainda oram pelo animal falecido. Organizam-se de modo a respeitar hierarquias políticas e religiosas (com um viés monárquico) e curam seus males usando a força da natureza. Também já superaram as picuinhas internas entre as diversas tribos. Lucro, essa coisa tão Hollywoodiana, os Na’vi parecem desconhecer.
Ainda que fosse apenas a redenção de todos os males do espírito, o que não é pouco, quando um ser humano encarna seu avatar no filme de Cameron, torna-se também um coquetel de nossas melhores virtudes físicas. Porque os Na’vi são todos esbeltos como uma top model, altos como um jogador de basquete, ágeis como nossos melhores ginastas, rápidos como um corredor de 100m e resistentes como um maratonista. Também são hábeis como um jóquei, fortes como um alpinista, precisos como um soldado... São, enfim, tudo de bom. Nem precisa ser paraplégico para desejar a troca de corpo e viver no avatar de uma vez por todas!
E é justamente aí que o Na’vi torce o rabo: a mensagem final, de um outro mundo possível, só se concretiza com a expulsão dos homens do paraíso, digo, de Pandora, e o herói, desencarnado, abdicando definitivamente de sua humanidade. Em outras palavras, nós (humanos) perdemos o minério, a guerra, o direito de habitar essa formosa lua e o líder que, por seu exemplo, poderia ser o agente de mudança de nossa consciência. O único que ganhou o direito de viver como um deus foi aquele homem que deus se tornou: belo, puro, sábio, ágil e, também, morto.
Está tudo muito bem na bilheteria, está tudo muito bom nos efeitos especiais... Mas, em se tratando de um libelo ecológico, bem que merecíamos um desfecho um pouco menos maniqueísta. Daqui a pouco vai parecer que vale mais a pena nos mudarmos para avatares virtuais, todos tão lindos e bacanas, e onde não há risco de frustrações ou efeito estufa. Ou morrer de uma vez, pois, no céu de São James, vamos casar com a filha do cacique.
Muito já foi dito sobre a superprodução cinematográfica Avatar. Há quem comente apenas o fantástico senso de oportunidade de James Cameron, abordando o tema ecológico bem no momento em que o assunto esquenta de vez no planeta (com o perdão do trocadilho). Outros destacam a revolução tecnológica desta obra em 3D, promessa de ser divisor de águas para o cinema. Como a história não é nem de longe a primeira a ser ecologicamente correta, além de nascer fadada a ter seus avanços técnicos suplantados em poucos meses, decidi me concentrar naquilo que deu o nome ao filme: os tais avatares.
A palavra avatar vem do sânscrito (avatara) e significa, originalmente, encarnação. Ou, para ser mais específico, o espírito que ocupa um corpo carnal. Por um deslocamento muito curioso, o termo foi adotado na internet para dar o nome à representação pictórica de alguém no ambiente virtual. Isto é, uma desencarnação! Bom, se no induísmo o avatar é deus que vira gente, quando invertemos o sentido, é muito justo que o homem almeje nada além da divindade. Na virtualidade, tímidos ficam extrovertidos, sacanas se transformam em anjos, avaros esbanjam e pobres enriquecem. Ao nosso pequeno deus virtual, tudo é possível.
No caso do filme, os avatares são clones da espécie Na’vi, nome dos nativos da Lua Pandora, criados pelos humanos para encarnarem e, a exemplo da web, despirem-se dos pecados humanos. Afinal, os seres azuis são de uma pureza de dar inveja aos índios românticos! Vivem em perfeita harmonia com o exuberante meio ambiente e não matam uma pulga sem uma finalidade nobre ‒ e, mesmo assim, ainda oram pelo animal falecido. Organizam-se de modo a respeitar hierarquias políticas e religiosas (com um viés monárquico) e curam seus males usando a força da natureza. Também já superaram as picuinhas internas entre as diversas tribos. Lucro, essa coisa tão Hollywoodiana, os Na’vi parecem desconhecer.
Ainda que fosse apenas a redenção de todos os males do espírito, o que não é pouco, quando um ser humano encarna seu avatar no filme de Cameron, torna-se também um coquetel de nossas melhores virtudes físicas. Porque os Na’vi são todos esbeltos como uma top model, altos como um jogador de basquete, ágeis como nossos melhores ginastas, rápidos como um corredor de 100m e resistentes como um maratonista. Também são hábeis como um jóquei, fortes como um alpinista, precisos como um soldado... São, enfim, tudo de bom. Nem precisa ser paraplégico para desejar a troca de corpo e viver no avatar de uma vez por todas!
E é justamente aí que o Na’vi torce o rabo: a mensagem final, de um outro mundo possível, só se concretiza com a expulsão dos homens do paraíso, digo, de Pandora, e o herói, desencarnado, abdicando definitivamente de sua humanidade. Em outras palavras, nós (humanos) perdemos o minério, a guerra, o direito de habitar essa formosa lua e o líder que, por seu exemplo, poderia ser o agente de mudança de nossa consciência. O único que ganhou o direito de viver como um deus foi aquele homem que deus se tornou: belo, puro, sábio, ágil e, também, morto.
Está tudo muito bem na bilheteria, está tudo muito bom nos efeitos especiais... Mas, em se tratando de um libelo ecológico, bem que merecíamos um desfecho um pouco menos maniqueísta. Daqui a pouco vai parecer que vale mais a pena nos mudarmos para avatares virtuais, todos tão lindos e bacanas, e onde não há risco de frustrações ou efeito estufa. Ou morrer de uma vez, pois, no céu de São James, vamos casar com a filha do cacique.
2 comentários:
Grande mestre Rubem, tudo bem? Espero que sim. Vi o falado Avatar. Achei o filme visualmente muito bonito, roteiro nem tanto. Porém, apesar dos clichês (e talvez por causa deles), acho que Cameron conseguiu uma pluralidade de interpretações interessantes. Invasão do oeste amaericano, descobrimento da América, guerra da secessão, propaganda antiamericana(bairristas esses americanos, não?) e até a revolução farroupilha. Na minha visão simplista e romântica entendi o filme como um remake mitológico da chegada dos deuses à Terra e a paixão de alguns deles pelas nossas mulheres. Hummm!! Pensando bem, acho que o mundo começou no Rio Grande do Sul,senão, por quais mulheres os deuses se apaixonariam???
Mauro Darcy Spinato
Sim, Mauro: por causa dele! Os roteiristas não jogam pedras fora de alvo. Tudo concorre para nos levar às tantas histórias da humanidade. Até Tarzan!
Abração, fico feliz com a tua leitura e aguardando a chance de nos reencontrarmos.
Rubem
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