21.10.11

Verdadeiro ou falso?

Número 444

Rubem Penz

(  ) 1. Os organizadores de provas olímpicas decidiram modificar a cerimônia de premiação: agora, desde o momento que o atleta passa para as oitavas de final, cumprirá uma cerimônia completa com direito a pódio, hinos, medalhas, louros, festa e fotos. Sabe como é – se ele desistir de competir na próxima prova, não perderá a oportunidade de ser homenageado. Depois, ao galgar as quartas de final, tudo se repetirá. E outra vez na semifinal. Por fim, na final.

(  ) 2. Os pais decidiram modificar as comemorações de bodas para seus filhos: quando anunciarem namoro, será preparada uma festa de gala para toda a família e amigos. A menina entrará na Igreja vestida de branco, o menino esperará no altar com fraque e alguns colegas de aula estarão ao lado cumprindo o papel de padrinhos e madrinhas. Um padre abençoará o namoro. Sabe como é – se eles desistirem um do outro, já terão um álbum completo para recordação. Caso resolvam noivar, tudo se repete. No casamento, outra vez: igualzinho.

(  ) 3. O cerimonial da República decidiu mudar as regras de posse da Presidência: quando o partido decidir pelo candidato nas prévias, ele já subirá a rampa do Planalto acompanhado do cônjuge e da comitiva. Lá, receberá a faixa do titular e poderá proferir o seu discurso. Se chegar a desistir do pleito, terá o gostinho de uma tomada de posse para recordação. Caso avance para o segundo turno das eleições, tudo se repete. Vencendo, igual.

(  ) 4. Muitas escolas de classe média, média alta e alta decidiram turbinar as regras das formaturas: agora, ao cabo do Ensino Fundamental, impõem aos pais o custeio de uma cerimônia de colação de grau quase idêntica ao Ensino Superior. Azar que todos se encontrarão logo depois das férias no Ensino Médio, quando há planos de outra formatura – ou alguém supõe que essas crianças vão interromper os estudos aos 14 anos?

Respostas: 1 F; 2 F; 3 F; 4 V

Sim, a primeira questão é falsa. As regras seguem inalteradas: para merecer o pódio, todo atleta deve cumprir as etapas classificatórias e, mesmo na final, estar entre os três melhores para ser festejado. Claro que chegar até uma Olimpíada é um grande mérito. Mas nem todos alcançam os máximos louros.

A segunda questão também é falsa. Véu e grinalda ficam reservados para as noivas de verdade. O menino simpático que está namorando sua filha merece acolhimento e atenção. A rica menina que encantou seu filho fica ainda mais querida frequentando sua casa. Mas, nem por isso se deve convencer o padre a fazer uma cerimônia antes da hora.

A terceira, igualmente, é falsa como uma nota de R$3,00. Ao vencer as prévias, o candidato festeja. Se passar para o segundo turno das eleições, festeja mais (e começa a articular aquilo que se convencionou chamar de "alianças políticas", intenções tão límpidas na nascente, quanto poluídas na foz). Só mesmo ao ser eleito subirá a rampa do Palácio da Alvorada.

Por mais estranho que pareça, a quarta questão é verdadeira. Já passei por isso e escuto queixas de pais cujos filhos terminam agora o Ensino Fundamental. Na época, fui voto vencido quando propus apenas uma festa – o que realmente interessa para a meninada. Soube que, agora, chegaram a hostilizar famílias que decidiram não compactuar com a cerimônia despropositada e desproporcional.

Devemos estar errados: vou lançar a ideia de pódio para todo competidor, chuva de arroz na escadaria da Catedral para namorados, faixa e juramento para os candidatos à Presidência. Vai pegar: ninguém mais parece capaz de contrariar absurdos.


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7 comentários:

Nara Accorsi disse...

Muito bem colocado, caro Mestre. Haja psiquiatra para resolver os traumas de um "segundo lugar"... Numa cultura de vencedores, seremos colocados num pódio desde os primeiros passos, primeiras palavras, primeiras brigas. E viva os vencedores!

Rubem Penz disse...

Nara, os pais estão abdicando do compromisso de educar - que é mais do que ensinar a não falar de boca cheia ou dar bom dia. Abraços, grato, Rubem

Paulo Seben disse...

Concordo em caso, gênero, número e grau!

Lourival disse...

É verdade, mas não é novidade, as coisas vão e voltam. As comemorações estão na moda (conquistar e celebrar). Eu me lembro bem da minha formatura do ginásio em 1965, que equivale ao primeiro grau. Não vejo nada de mais, é só mais um modismo repaginado.

Rubem Penz disse...

Caro Lourival, respeito seu ponto de vista. Só não podemos comparar a dimensão do Ginásio em 1965 com a do Ensino Fundamental em 2011 - por mais que conquistar e celebrar seja louvável. Grato, abraços, Rubem

Anônimo disse...

Rubem: A SITUAÇÃO É PIOR DO QUE DESCREVESTE. Atualmente, quando a criança termina o período da Educação Infantil (antigo Jardim de Infância)e vai ingressar no ensino fundamental as escolas fazem cerimônia de formatura com festa, fotos, gravação em vídeo, discursos, entrega de diplomas, aluguel de salão, decoração, etc. Tempos atrás, na "formatura" de um dos meus sobrinhos, os pais de uma das meninas de 6 anos "formandas" (se é que podemos chamá-la assim) choravam exemplarmente. Fiquei imaginando o que sobrará para a cerimônia de conclusão do curso superior.
STELLA BENTO - Porto Alegre

Rubem Penz disse...

Pois, Stella, é bem isso! Precisa-se de gradação. Da festinha até o festão, há um caminho. Se, na oitava (ou no jardim) já ofertamos o que muitos de nós sequer sonharam para a conclusão do curso superior, quando os jovens chegarem ao fim da faculdade precisarão contratar o Joãozinho Trinta!Ou será uma mixaria que nem darão valor. Quer dizer, na minha modesta opinião, né! Grato, abraços, Rubem

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