CRACK: QUEBRAR, PARTIR
O crack, uma das mais devastadoras drogas desenvolvidas pelo homem, pode ser escutado como uma palavra onomatopéica que significa quebra. E parece ser consensual a ideia de que, depois do crack (após o rompimento), são poucas as chances de as estruturas partidas voltarem à integridade como se nada tivesse acontecido. Cabe, então, pensarmos nas forças que atuaram antes do fato, criando as condições para tal quebra, ou, no mínimo, abstendo-se de cautela. Nossa chance está na antecipação.
Comecemos procurando as frestas, pois, diz a lógica, o rompimento tende a acontecer nas estruturas comprometidas. Quando olhamos para a família, outrora o elo mais forte da corrente social, percebemos que ela nunca esteve tão fragilizada. Sob o manto tecido com mil justificativas, algumas até certo ponto plausíveis como a falta de tempo (causada pelo excesso de trabalho), pais delegam para terceiros a educação integral de seus filhos. Neste cenário, deixam de passar valores básicos para uma boa composição emocional das crianças, tais como limites de conduta, ética, perseverança. Ou, pior, cultivam uma rotina distante, ou até violenta, eco de um ambiente sem fraternidade.
Digamos, porém, que a família esteja bem preservada, com o amor em dia e valores consolidados. A próxima rachadura que facilitaria o crack está no primeiro degrau fora de casa ‒ o espaço gerido pelo poder público. Nele, a impunidade e a permissividade nunca estiveram tão presentes. A falência da ordem institucional fez crescer poderes paralelos, financiados pelo dinheiro das drogas, instaurando um ambiente de terror e subserviência. Além do mais, o trabalho honesto, o estudo dedicado, em última instância a virtude, tudo passa a ser visto como uma fraqueza. Esperto, inteligente e próspero é quem está no lado marginal. Mané é o sujeito que trabalha o mês inteiro para comprar um par de calçado, pronto para ficar sem ele no primeiro arrastão.
Mas não basta atirar nas costas largas do Estado toda a responsabilidade sobre o bem comum. Se existem falhas na fiscalização e punição de agentes ligados ao narcotráfico, a incompetência estatal seria minimizada caso não houvesse consumo. E como há! Além disso, todos os crimes cometidos por usuários desesperados por dinheiro encontram na própria sociedade os receptadores, os comerciantes e os novos compradores do roubo. Cada pedra de crack acendida na esquina já movimentou uma cadeia econômica gigantesca. E isso não é uma rachadura fácil de ser mensurada, interrompida e novamente consolidada.
Por fim, a última falha que causa o crack está dentro do nosso próprio cérebro. Ironicamente, atende pelo nome de fissura. Em nome dela, tudo o que aprendemos com os pais é esquecido; o tanto quanto a escola nos fez crescer cai por terra; as recompensas do trabalho serão menores; nenhum esforço institucional parecerá suficiente. A fissura é a deusa do imediato, não mede consequências, desconhece limites, devora o homem. Antecipar-se à fissura, explicar seu preço e falar de seus riscos é evitar o triste rompimento, a quebra, o crack. Isso, ou ver nossos filhos, tão cedo, partindo.
O crack, uma das mais devastadoras drogas desenvolvidas pelo homem, pode ser escutado como uma palavra onomatopéica que significa quebra. E parece ser consensual a ideia de que, depois do crack (após o rompimento), são poucas as chances de as estruturas partidas voltarem à integridade como se nada tivesse acontecido. Cabe, então, pensarmos nas forças que atuaram antes do fato, criando as condições para tal quebra, ou, no mínimo, abstendo-se de cautela. Nossa chance está na antecipação.
Comecemos procurando as frestas, pois, diz a lógica, o rompimento tende a acontecer nas estruturas comprometidas. Quando olhamos para a família, outrora o elo mais forte da corrente social, percebemos que ela nunca esteve tão fragilizada. Sob o manto tecido com mil justificativas, algumas até certo ponto plausíveis como a falta de tempo (causada pelo excesso de trabalho), pais delegam para terceiros a educação integral de seus filhos. Neste cenário, deixam de passar valores básicos para uma boa composição emocional das crianças, tais como limites de conduta, ética, perseverança. Ou, pior, cultivam uma rotina distante, ou até violenta, eco de um ambiente sem fraternidade.
Digamos, porém, que a família esteja bem preservada, com o amor em dia e valores consolidados. A próxima rachadura que facilitaria o crack está no primeiro degrau fora de casa ‒ o espaço gerido pelo poder público. Nele, a impunidade e a permissividade nunca estiveram tão presentes. A falência da ordem institucional fez crescer poderes paralelos, financiados pelo dinheiro das drogas, instaurando um ambiente de terror e subserviência. Além do mais, o trabalho honesto, o estudo dedicado, em última instância a virtude, tudo passa a ser visto como uma fraqueza. Esperto, inteligente e próspero é quem está no lado marginal. Mané é o sujeito que trabalha o mês inteiro para comprar um par de calçado, pronto para ficar sem ele no primeiro arrastão.
Mas não basta atirar nas costas largas do Estado toda a responsabilidade sobre o bem comum. Se existem falhas na fiscalização e punição de agentes ligados ao narcotráfico, a incompetência estatal seria minimizada caso não houvesse consumo. E como há! Além disso, todos os crimes cometidos por usuários desesperados por dinheiro encontram na própria sociedade os receptadores, os comerciantes e os novos compradores do roubo. Cada pedra de crack acendida na esquina já movimentou uma cadeia econômica gigantesca. E isso não é uma rachadura fácil de ser mensurada, interrompida e novamente consolidada.
Por fim, a última falha que causa o crack está dentro do nosso próprio cérebro. Ironicamente, atende pelo nome de fissura. Em nome dela, tudo o que aprendemos com os pais é esquecido; o tanto quanto a escola nos fez crescer cai por terra; as recompensas do trabalho serão menores; nenhum esforço institucional parecerá suficiente. A fissura é a deusa do imediato, não mede consequências, desconhece limites, devora o homem. Antecipar-se à fissura, explicar seu preço e falar de seus riscos é evitar o triste rompimento, a quebra, o crack. Isso, ou ver nossos filhos, tão cedo, partindo.
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