MENTIRAS PRESERVATIVAS
A vida de maridos que mentem sistematicamente para suas esposas não é nada fácil. Não que seja complicado inventar histórias, desculpas, explicações. Em regra, os homens são bastante criativos e escorregadios. E solidários, caso necessitem de álibis de parceiros de farra. Porém, do outro lado, encontram mulheres equipadas pela natureza com uma atenção diferenciada (principalmente quando o tema interessa) e uma memória muito, muito superior.
Neste momento, surge um paradoxo: ao criar uma mentira, se ela for pobre em detalhes, jamais será verossímil. Ou, em outras palavras, não colará. Porém, a chance de o mentiroso lembrar por bastante tempo dos detalhes de uma história elaborada e, por isso, presumível, é pequena. Menor ainda será a memória de um eventual comparsa. Por sua vez, a impressionante memória feminina guardará o enredo tintim por tintim. E no futuro, por acaso ou de propósito, a mentira poderá ser desvendada, gerando um desgaste infeliz.
Dias atrás, conversando com um amigo escolado, recebi orientações preciosas para resolver esse problema (o qual, diga-se de passagem, nem tenho). Com rigor quase científico, me disse que devemos ter sempre na lembrança a lição que o educador sexual dá aos pais para quando as crianças fazem perguntas sobre reprodução humana: não informe nada além da curiosidade. Na esperança de que o texto até aqui tenha sido suficientemente calhorda para levar as moças a abandonarem a leitura, reproduzo alguns dos exemplos citados:
Caso tenha perdido a aliança em uma atividade suspeita, e resolva inventar um assalto para explicar seu sumiço, seja econômico: foi na calçada, um homem, armado que, com pressa, levou o anel e mais nada. Não diga o nome e o calibre do revólver. Mesmo sem saber a diferença entre um 22 e um 38, elas guardarão os números e isso pode levar a uma contradição. “Arma” basta. Jamais descreva o assaltante! Diga que foi rápido demais e você nem viu direito. “Perto do escritório” pode ser suficiente. Tudo o mais pode ser passível de testemunhas.
No caso de não ter perdido nada além da hora, explique o atraso com um mínimo de informações. Experimente, primeiro, culpar o trânsito. Mas não caia na tentação de imaginar um acidente, uma obra viária, uma blitze da Polícia Federal. Se ela pedir detalhes, diga que “deve ter acontecido alguma coisa”, e prometa buscar a explicação no jornal do dia seguinte. Quando chegar em casa exalando perfume feminino, diga que foi uma demonstradora que, reparando na sua aliança, borrifou em você para convencer que seria um bom presente de aniversário. Porém, jamais descreva a tal demonstradora: seu inconsciente pode lhe trair e dar pistas do que, justamente, deve ser ocultado.
Dito assim, parece fácil. Mas não é. Se você faz parte da categoria dos homens que recorrem à mentira como ferramenta de harmonia conjugal, pode dar o azar de estar casado com uma mulher perspicaz. Ela, então, fará perguntas para descobrir uma contradição. E guardará as minúcias para futuras inquisições. O segredo é tentar ficar na superfície das generalidades, respirando aliviado, enquanto ela tenta desesperadamente puxar você para as profundezas do detalhamento.
Bom, para o caso de alguma mulher ter chegado até aqui, um consolo: no caso invertido (o de ser ela quem pula a cerca), qualquer explicação mal criada será suficiente. Bem no fundo, tudo o que os maridos querem é nada descobrir.
A vida de maridos que mentem sistematicamente para suas esposas não é nada fácil. Não que seja complicado inventar histórias, desculpas, explicações. Em regra, os homens são bastante criativos e escorregadios. E solidários, caso necessitem de álibis de parceiros de farra. Porém, do outro lado, encontram mulheres equipadas pela natureza com uma atenção diferenciada (principalmente quando o tema interessa) e uma memória muito, muito superior.
Neste momento, surge um paradoxo: ao criar uma mentira, se ela for pobre em detalhes, jamais será verossímil. Ou, em outras palavras, não colará. Porém, a chance de o mentiroso lembrar por bastante tempo dos detalhes de uma história elaborada e, por isso, presumível, é pequena. Menor ainda será a memória de um eventual comparsa. Por sua vez, a impressionante memória feminina guardará o enredo tintim por tintim. E no futuro, por acaso ou de propósito, a mentira poderá ser desvendada, gerando um desgaste infeliz.
Dias atrás, conversando com um amigo escolado, recebi orientações preciosas para resolver esse problema (o qual, diga-se de passagem, nem tenho). Com rigor quase científico, me disse que devemos ter sempre na lembrança a lição que o educador sexual dá aos pais para quando as crianças fazem perguntas sobre reprodução humana: não informe nada além da curiosidade. Na esperança de que o texto até aqui tenha sido suficientemente calhorda para levar as moças a abandonarem a leitura, reproduzo alguns dos exemplos citados:
Caso tenha perdido a aliança em uma atividade suspeita, e resolva inventar um assalto para explicar seu sumiço, seja econômico: foi na calçada, um homem, armado que, com pressa, levou o anel e mais nada. Não diga o nome e o calibre do revólver. Mesmo sem saber a diferença entre um 22 e um 38, elas guardarão os números e isso pode levar a uma contradição. “Arma” basta. Jamais descreva o assaltante! Diga que foi rápido demais e você nem viu direito. “Perto do escritório” pode ser suficiente. Tudo o mais pode ser passível de testemunhas.
No caso de não ter perdido nada além da hora, explique o atraso com um mínimo de informações. Experimente, primeiro, culpar o trânsito. Mas não caia na tentação de imaginar um acidente, uma obra viária, uma blitze da Polícia Federal. Se ela pedir detalhes, diga que “deve ter acontecido alguma coisa”, e prometa buscar a explicação no jornal do dia seguinte. Quando chegar em casa exalando perfume feminino, diga que foi uma demonstradora que, reparando na sua aliança, borrifou em você para convencer que seria um bom presente de aniversário. Porém, jamais descreva a tal demonstradora: seu inconsciente pode lhe trair e dar pistas do que, justamente, deve ser ocultado.
Dito assim, parece fácil. Mas não é. Se você faz parte da categoria dos homens que recorrem à mentira como ferramenta de harmonia conjugal, pode dar o azar de estar casado com uma mulher perspicaz. Ela, então, fará perguntas para descobrir uma contradição. E guardará as minúcias para futuras inquisições. O segredo é tentar ficar na superfície das generalidades, respirando aliviado, enquanto ela tenta desesperadamente puxar você para as profundezas do detalhamento.
Bom, para o caso de alguma mulher ter chegado até aqui, um consolo: no caso invertido (o de ser ela quem pula a cerca), qualquer explicação mal criada será suficiente. Bem no fundo, tudo o que os maridos querem é nada descobrir.
5 comentários:
Boas mentiras, eu, como uma mulher que recebe as mentiras acabei de escrever um texto, onde o "meu" homem protagonista corta a barba para tirar o cheiro de sexo impregnado. Muito longe, né? Ótimo texto, valeu a indicação da minha mãe Joana.
Beijos
Carolina
Muito longe, Carolina?
Depende...
Me diga: o plano dá resultado? Aí poderei te responder.
Muito grato, abraços,
Rubem
Independente do sucesso do plano do homem ele continua sempre contando com as paranóias (verdadeiras ou falsas) das mulheres. Talvez tirar a barba tenha sido pior... Afinal, sempre pode ser o pedido de uma terceira... Dureza...
Bjs
Carolina
Grande Rubem!
Adorei a crônica. Vou mandar para minha mulher para que ela confie ainda mais em mim. Um abraço.
Mauro
Faz bem Mauro: muito bem!
Termos mulheres confiando em nós é qualidade de vida.
Abração, grato,
Rubem
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