NÃO PERDI: SÓ NÃO SEI ONDE ESTÁ
Existem duas situações que, mesmo diferentes entre si, quando vistas de modo simplificado, se irmanam. Refiro-me a perder as coisas e não saber onde elas estão. Aconteceu comigo esses dias: minha mulher encontrou órfã, na área de serviço, a capinha do recém comprado guarda-chuva portátil. Perguntou onde ele estava. Respondi que não sabia. “Depois reclama quando as crianças perdem as coisas”, ela me repreendeu. Em minha defesa, disse que não havia perdido, só não sabia onde ele estava. Gargalhando, ela não aceitou meu argumento. Porém, sustento que há diferenças.
Por exemplo: se por distração, desleixo ou mera interrupção da tarefa (toca a campainha), eu deixo a tesoura da cozinha sobre a pia. Ato contínuo, alguém passa e a leva adiante. Quando retorno ao local, sem encontrá-la, considero que a perdi? Ou simplesmente não sei onde ela está? Ora, objetos inanimados não mudam sozinhos de lugar. Logo, se alguém pegou de onde eu tinha certeza ter deixado, simplesmente não sei onde está. Mesmo que pareça ter perdido! Nesse caso hipotético, se a pessoa que apanhou a tesoura de cima da pia foi minha esposa, nem é preciso sair da cozinha: basta ir à segunda gaveta (de cima para baixo) e lá estará. Tudo que passa por sua mão repousa no lugar. Mas, e se foi um filho?
Na mesma situação, tudo muda se vou atender à campainha levando a tesoura comigo, e a deixo sobre o chapeleiro do hall de entrada para apanhar a chave da porta ali pendurada. Agora, ao retornar à tarefa, constatarei ter perdido a tesoura. Notem: ninguém mais interferiu na ação. Restará a alternativa de refazer meus passos para tentar de algum modo encontrar o objeto perdido. Isso na hipótese de a esposa já não ter passado pelo chapeleiro do hall de entrada e ter devolvido, indignada, a tesoura para o pouso correto. Sim: aqui em casa, o primeiro lugar para se procurar algo é onde sempre deveria estar. Sou casado com a organização em pessoa.
O caso do guarda-chuva novo foi parecido com o exemplo da tesoura: saí com ele para ir à casa de um vizinho próximo. A chuva prometida não aconteceu: perde-se guarda-chuvas assim. Cauteloso, usei toda minha concentração para voltar com ele para casa. Entrei pela porta da área de serviço. Deveria estar ali, bem próximo de onde ficara sua capinha. Mas não estava. Por isso, justo depois de tanta atenção, de tanta certeza, não aceitei a acusação de tê-lo perdido. Tinha convicção: voltei com o guarda-chuva para casa, só não sabia onde estava. Gargalhadas...
Anteontem (de quando escrevi a crônica) nosso filho encontrou o guarda-chuva. Estava pendurado no cabide de parede onde há bonés, sacolas de feira, guia do cachorro, aventais de cozinha etc. Além de não ser seu lugar habitual, estava oculto pelo avental de churrasco. Em suma, nunca havia saído da área de serviço. Apanhei-o nas mãos, triunfante, e bradei: “Viu só! Eu disse que não tinha perdido! Só não sabia onde estava!” Na certa, alguém o guardou fora do lugar. No caso, se eu tivesse deixado na casa do vizinho, aí sim teria perdido.
Ao escutar meu libelo cheio de entusiasmo, o filhão disse que existe uma comunidade do Orkut com esse nome. Aliás, segundo consta, ele próprio é um dos integrantes. Está lá: “Não perdi, só ñ sei onde está”. Na foto, uma menina mergulhada em seu guarda-roupa. São 801.752 pessoas a me darem razão. Em sua maioria, devem ter sido acusadas injustamente de perder algo. Ganhei o dia!
Desde então, meu guarda-chuva portátil está, devidamente encapado, no lugar certo: no chapeleiro do hall de entrada, junto com suas irmãs sombrinhas. É onde também está pendurada a chave da porta, bem como manda o figurino. E, por falar chapeleiro do hall, se por acaso eu agora precisar da tesoura, sei exatamente onde encontrá-la.
Na segunda gaveta da cozinha, de cima para baixo. Claro!
Existem duas situações que, mesmo diferentes entre si, quando vistas de modo simplificado, se irmanam. Refiro-me a perder as coisas e não saber onde elas estão. Aconteceu comigo esses dias: minha mulher encontrou órfã, na área de serviço, a capinha do recém comprado guarda-chuva portátil. Perguntou onde ele estava. Respondi que não sabia. “Depois reclama quando as crianças perdem as coisas”, ela me repreendeu. Em minha defesa, disse que não havia perdido, só não sabia onde ele estava. Gargalhando, ela não aceitou meu argumento. Porém, sustento que há diferenças.
Por exemplo: se por distração, desleixo ou mera interrupção da tarefa (toca a campainha), eu deixo a tesoura da cozinha sobre a pia. Ato contínuo, alguém passa e a leva adiante. Quando retorno ao local, sem encontrá-la, considero que a perdi? Ou simplesmente não sei onde ela está? Ora, objetos inanimados não mudam sozinhos de lugar. Logo, se alguém pegou de onde eu tinha certeza ter deixado, simplesmente não sei onde está. Mesmo que pareça ter perdido! Nesse caso hipotético, se a pessoa que apanhou a tesoura de cima da pia foi minha esposa, nem é preciso sair da cozinha: basta ir à segunda gaveta (de cima para baixo) e lá estará. Tudo que passa por sua mão repousa no lugar. Mas, e se foi um filho?
Na mesma situação, tudo muda se vou atender à campainha levando a tesoura comigo, e a deixo sobre o chapeleiro do hall de entrada para apanhar a chave da porta ali pendurada. Agora, ao retornar à tarefa, constatarei ter perdido a tesoura. Notem: ninguém mais interferiu na ação. Restará a alternativa de refazer meus passos para tentar de algum modo encontrar o objeto perdido. Isso na hipótese de a esposa já não ter passado pelo chapeleiro do hall de entrada e ter devolvido, indignada, a tesoura para o pouso correto. Sim: aqui em casa, o primeiro lugar para se procurar algo é onde sempre deveria estar. Sou casado com a organização em pessoa.
O caso do guarda-chuva novo foi parecido com o exemplo da tesoura: saí com ele para ir à casa de um vizinho próximo. A chuva prometida não aconteceu: perde-se guarda-chuvas assim. Cauteloso, usei toda minha concentração para voltar com ele para casa. Entrei pela porta da área de serviço. Deveria estar ali, bem próximo de onde ficara sua capinha. Mas não estava. Por isso, justo depois de tanta atenção, de tanta certeza, não aceitei a acusação de tê-lo perdido. Tinha convicção: voltei com o guarda-chuva para casa, só não sabia onde estava. Gargalhadas...
Anteontem (de quando escrevi a crônica) nosso filho encontrou o guarda-chuva. Estava pendurado no cabide de parede onde há bonés, sacolas de feira, guia do cachorro, aventais de cozinha etc. Além de não ser seu lugar habitual, estava oculto pelo avental de churrasco. Em suma, nunca havia saído da área de serviço. Apanhei-o nas mãos, triunfante, e bradei: “Viu só! Eu disse que não tinha perdido! Só não sabia onde estava!” Na certa, alguém o guardou fora do lugar. No caso, se eu tivesse deixado na casa do vizinho, aí sim teria perdido.
Ao escutar meu libelo cheio de entusiasmo, o filhão disse que existe uma comunidade do Orkut com esse nome. Aliás, segundo consta, ele próprio é um dos integrantes. Está lá: “Não perdi, só ñ sei onde está”. Na foto, uma menina mergulhada em seu guarda-roupa. São 801.752 pessoas a me darem razão. Em sua maioria, devem ter sido acusadas injustamente de perder algo. Ganhei o dia!
Desde então, meu guarda-chuva portátil está, devidamente encapado, no lugar certo: no chapeleiro do hall de entrada, junto com suas irmãs sombrinhas. É onde também está pendurada a chave da porta, bem como manda o figurino. E, por falar chapeleiro do hall, se por acaso eu agora precisar da tesoura, sei exatamente onde encontrá-la.
Na segunda gaveta da cozinha, de cima para baixo. Claro!
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