Número 418
Rubem Penz
Em 2008 noticiei em única mão o término do contrato de concessão aos coelhos para serem os animais símbolos da Páscoa, além da consequente abertura de Edital para nova concorrência. Confira no Rufar dos Tambores número 256, de 19 de março (http://rufardostambores.blogspot.com/2008/03/nmero-256.html). À época, candidataram-se os ratos, as galinhas, as formigas e, muito a contra gosto, os bichos-preguiça. Como todos podem constatar nas campanhas publicitárias, para a felicidade dos coelhos, deu em nada. Parece que havia erros formais no documento, o que ocasionou sua denúncia e novo contrato emergencial com validade de cinco anos. Desconfio que entregaram a tarefa para brasileiros, que gostam mais de renovações emergenciais de contratos do que mulheres de chocolate.
Volto ao tema porque soube do lançamento de novo Edital com vistas para a Páscoa do ano que vem. Todavia, o desgaste do cancelamento anterior provoca baixo interesse na bicharada. Poucos se dispõem a enfrentar o lobby dos coelhos, que se reproduz em todos os níveis da administração pascal. Contrariando essa corrente, lá estão os leões, que prometem ser concorrentes de peso. A seguir, a justificativa dos Reis das Selvas:
Leões de Páscoa
Nós, leões, apresentamos nossa candidatura a Animal Símbolo da Páscoa para destronar de uma vez por todas os coelhos. Afinal, trono é prerrogativa de monarcas, o que somos de fato e de direito. Também porque, de alguma forma, mesmo sem ser a ideal (e quem liga para preciosismos?), nos relacionamos tanto com a comunidade cristã, quanto com a tradição alimentar – comíamos cristãos nas arenas romanas.
Outra vantagem é a de concorrer em pé de igualdade com o Papai Noel: é sabido que o bom velhinho carrega uma contradição implícita, um misto de fascínio e medo, impossível de ser explorada por adoráveis coelhinhos. Agora, no nosso caso, papai e mamãe podem recorrer às pequenas chantagens: se não comer tudo, vou contar para o Leão da Páscoa! Nada melhor do que um carnívoro que habita o ápice da pirâmide alimentar para impor respeito.
Porém, no cerne de nossa defesa, está a coincidência de a Páscoa acontecer no momento em que as pessoas se preparam para prestarem contas com o Imposto de Renda, onde já estamos presentes. E a ação governamental combina com os ritos pascais em diversos pontos:
O contribuinte é convidado à ceia que precede o sacrifício e, nela, o governo já avisa que há traidores entre eles. Mesmo assim, segue com o jantar até o final, pois o problema de amanhã se resolve no dia seguinte.
O traidor é corrompido, levando o contribuinte à Via Crucis da saúde, da segurança, da educação, da infraestrutura etc. Em sua jornada, é submetido aos piores tratamentos e às maiores humilhações.
Por fim, imolado em praça pública, morre com o dinheiro devido aos cofres da viúva, na esperança de ressuscitar no momento da devolução dos eventuais valores de restituição.
Por tudo o que foi exposto, é pleito legítimo dos leões serem o novo Animal Símbolo da Páscoa.
--
Visite-me em:
www.rubempenz.com.br
www.rufardostambores.blogspot.com
4 comentários:
Alguém sabe se o Platypus se candidatou? Afinal, eles botam ovos o que seria uma plataforma melhor do que a dos coelhos.
Ornitorrinco de Páscoa!
Tá uma plataforma que precisa de um bom marqueteiro! Abraços, Rubem
Voto no leão! beijo
Valeu, Maria Lúcia!
Abraços e Feliz Páscoa
Postar um comentário
Deixe aqui sua opinião.