Número 458
Rubem Penz
Era uma vez a velha Arte, o menino Sucesso e o jumento Labor. Eles precisavam ir até o Vilarejo do Bom Destino, em terras altas, para bem vender o Labor. Como a jornada seria longa e exaustiva – o lugar ficava distante uma vida inteira de onde partiriam – muniram-se de muito ânimo e, antes de pegar a estrada, acordaram a melhor forma de fazê-lo: a Arte sobre o Labor, e o Sucesso ao lado, movido por suas próprias forças. Lá se foram em busca do Bom Destino.
No caminho, enquanto passava pelas pessoas, o pequeno cortejo notou que todos cochichavam entre si. Certo dia, já intrigados, os três pararam para perguntar a razão de tanto assunto. É que não entendemos a atitude de vocês, responderam. Por que deixar o rentável Sucesso de lado, quando ele é quem deveria ser movido pelo Labor? A Arte, por ser mais experiente, estaria bem por si. Desejosos do Bom Destino para negociar o Labor, eles resolveram considerar tais opiniões: se tantos falavam, haveria de ser esse o melhor arranjo. E lá se foram.
Porém, a mesma cena se repetiu – eles passando com o Sucesso sobre o Labor, a Arte deixada a pé, e o povo cochichando. Certo dia, já desconfortáveis, os três pararam para perguntar a razão de tanto assunto. É que não entendemos a atitude de vocês, responderam. Como abandonar a frondosa Arte em favor do imaturo Sucesso? Prioridade a um jovem forte, com tanto viço, é muito desrespeito! Desejosos do Bom Destino ao Labor, eles consideraram nova mudança sem, contudo, voltar à criticada forma original. Agora, Arte, Sucesso e Labor seguiriam caminhando cada um por si. E lá se foram.
Mas a assistência continuava cochichando enquanto nossos protagonistas passavam. Certo dia, já irritados, os três pararam para perguntar a razão de tanto assunto. É que não entendemos a atitude de vocês, responderam. Quem, em sã consciência, pode frear o promissor andamento do Sucesso, ou impor à Arte tamanho sacrifício, desperdiçando a força do Labor? Confusos, ainda que desejosos do Bom Destino, eles recompuseram o grupo: Arte e Sucesso apertados por sobre o lombo do único Labor. E lá se foram.
Todavia, na primeira encruzilhada, a Arte e o Sucesso começaram a divergir: quem dos dois guiaria as rédeas do Labor pelo melhor caminho? A Arte se amparava na tradição, tentando impor uma rota ao mesmo tempo inovadora e segura. O afoito Sucesso só desejava bons atalhos. Nessas, o pobre Labor parecia andar em círculos, e muito pesavam suas pernas.
O pessoal? Continuava assuntando ao pé do ouvido, é claro. E rindo! Bem feito, diziam. Onde já se viu querer conciliar num só passo a Arte e o Sucesso para chegar ao cume, onde estará o Bom Destino para negociar o Labor? Isso é tarefa para quem nasce com personalidade, e não parece ser o caso desse trio aí, que nunca para de dar ouvidos aos outros.
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