Número 467
Rubem Penz
Cada geração de crianças (cada família) tem sua Páscoa pessoal, intransferível. O sentimento é sempre o mesmo, os símbolos pouco mudam, as mensagens permanecem. Porém, a maneira como tudo acontece vai se moldando aos costumes, ao orçamento, ao tempo.
Aqui, algumas das coisas que fizeram parte das minhas páscoas infantis:
Ovo cozido colorido. Sempre tinha em nossos ninhos. Eram fervidos em água com corantes e a casca ficava vermelha, roxa, verde, azul. O bacana é que a clara também restava colorida, em tom sobre tom.
Cascas de ovo pintadas, recheadas com amendoim doce e tampadas com papel de docinho. Verdadeiras obras de arte. Isso ainda é bem comum em algumas comunidades fundadas por imigrantes europeus, especialmente fora das grandes cidades.
Galinha de açúcar. Era um ninho com uma galinha branca e azul claro, cercada de pintinhos amarelos, toda feita apenas de açúcar. Comer tudo de uma vez só era tarefa para poucos. Eu voltava umas três vezes antes de terminar, colocando os pedaços babados na geladeira. Eca.
Barba de pau. Ninhos com barba de pau colhida nas árvores dos pátios, tudo perfumado com flores de macela. Essa não só fica difícil para os dias de hoje, como soa antiecológico. Quando me dou conta de que peguei essa época, me sinto com cem anos de idade.
Cestos de vime. Cada um tinha o seu, guardado pelas mães de ano para ano. Grandes, resistentes, fundo de madeira, feitos para durar por toda a infância e ainda ficarem íntegros para ser emprestados (doados) para quando os filhos crescessem. Verdadeiras obras de arte.
Moedas, garrafas e cigarros. Devemos presentear crianças pequenas com garrafas de licor feitas de chocolate (por dentro, açúcar cristalizado), moedas e cigarros de chocolate? Pois nós ingerimos álcool, fumamos e fomos piratas com moedas de ouro, tudo sob o patrocínio de pais, tios e avós. Politicamente incorreto, saborosamente delicioso.
Beijo Africano, Beijo de Moça, Kri Crocante e azedinhas com figuras. Inesquecíveis e saborosos beijos. O Kri era uma das delícias Nestlé, e as tais balas azedinhas, depois de um tempo, ficavam nos formatos de flor dentro da boca. Uns vidrinhos bons de cortar a língua!
Coelhos de marzipan (massapão ou maçapão, dependendo do livro de receitas). Nunca apreciei, mas jamais disse isso à tia Elaine, quem mais gostava de nos presentear com a iguaria. Menos mal que eles sempre serviram de moeda de troca por uma barra de chocolate branco, predileção pouco usual.
Chica. Uma cadela Fox Miniatura especializada em roubar bombons e chocolates dos nossos ninhos. Quieta, subia nas mesas e balcões usando poltronas, sofás e cadeiras como escada. Crime descoberto apenas mais tarde, no momento de arredar as poltronas para faxina. Ali, restavam as embalagens caprichosamente abertas com os dentes e com as patinhas.
O leitor certamente terá outra lista.
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