Número 483
Rubem
Penz
Quando Pedro me fala sobre Paulo,
sei mais de Pedro que de Paulo
Sigmund
Freud
Uma parcela considerável da imprensa sobrevive
de fofocas. Principalmente aquela dedicada a acompanhar a vida dos fulanos ditos
celebridades, os famosos “famosos”. Todavia, seja no esporte, coluna social,
editoria de cultura ou política, a verdade é que ninguém resiste a uma nota
sobre o comportamento alheio. Sempre assim: na caminhada, o que dá maior ibope
é o tropeção.
Por falar em tropeço, uma das oportunidades
mais aguardadas por repórteres é quando um casal de destaque se separa.
Especula-se sobre as razões, procuram rumores de quem possa ser o pivô do
rompimento, posicionam os microfones para colher declarações emocionais. Famosos
“profissionais” se esquivam com assessores de imprensa especializados no jogo
de mostrar e esconder. Outros agem no fogo dos acontecimentos, na dor da mágoa.
O que alguém revela de seu ex-cônjuge, para quem e em
quais circunstâncias, diz muito sobre o caráter. No casamento, há um despir-se
radical. Dividir a intimidade com alguém destrói qualquer fantasia de perfeição
– caem as máscaras e a humanidade surge em sua magnífica imperfeição. Nenhum
outro terá maior privilégio do que o cônjuge: será dele a mão na testa amparando
a cabeça diante da privada – a escatologia é o grande desafio do amor. Por isso
precisamos confiar.
O que fazer quando o amor acaba? Escolher as palavras
para não deixar que as vísceras da relação, agora morta, alimentem os urubus.
Sepultar as dores de modo que apenas a paz esteja visível diante da lápide. Heidi Klum é a mulher mais maravilhosa que
conheço, teria dito Seal ao separar-se. Ele (nada santo) perdeu algo
deixando só flores neste túmulo? Nada: ganhou! Uma mulher esperta verá nisso um
mérito.
Na contramão, Lissandra Souto, espinafrando o Tande
depois de longo matrimônio, depôs tanto ou mais contra ela do que contra ele. O
rapaz tem culpas no cartório? Claro que sim, tal como ela e eu também. Ao
faltar-lhe com respeito, em público e para os abutres, oferece a si própria em
sacrifício.
Aliás, Lissandra me fez lembrar um pouco as palavras de Chico Buarque: (...) me vingar a qualquer preço, te
adorando pelo avesso pra mostrar que ainda sou tua. Mas, claro, isso já é
especulação minha. Pura fofoca!
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