13.7.12

Dos pesadelos

Número 481

Rubem Penz

Sonhamos acordados e, igualmente, temos muitos pesadelos rondando nossa vigília. Mais: se vários sonhos são comuns a todos, há, também, pesadelos compartilhados. Um deles – dos mais frequentes – é o medo de que ninguém apareça na festa que você organiza com tanto apreço. Confesso meu pânico.

Enquanto quem convida está ocupado com os preparativos (contratando a comida, colocando a bebida no gelo, ajustando os detalhes da decoração), não há clima para temeridades, ou tempo, ou espaço. O foco está em prevenir sobressaltos de última hora, garantir a qualidade dos serviços, estar pontual no cronograma. Cumpridas todas as tarefas, nasce a dúvida: e se ninguém vier?

Pensa-se no prejuízo material, sim. No desperdício de comida, também. Mas o que realmente apavora é o abalo emocional que sofreremos caso ninguém apareça. São minutos que duram horas. As mãos ficam molhadas, os pés inquietos, o pensamento rumina cenários de catástrofe. Por instantes estamos reféns da solidão, e o primeiro amigo será tão importante quanto a silhueta de um navio no horizonte do náufrago. Ele, o primeiro, reconhecerá no abraço recebido o acerto em ter chegado assim cedo.

Mas, se em festas de salão ou residenciais o mico de ser esquecido é ameaçador, ele ao menos tem a vantagem de ser privado. Semana passada estive exposto à mesma angústia, com o agravante de estar em público. Explico.

Programei um jantar entre queridos amigos – a velha e invencível combinação de boa mesa e melhor papo. Como de costume, a lista de presença virtual cresceu feito capim em verão chuvoso. Que alegria! No dia e hora aprazados (aliás, quinze minutos antes, para dar tempo de contornar eventualidades), lá estava eu, solitário, ocupando uma mesa para trinta lugares. Trin-ta lu-ga-res... Ao redor, o restaurante começou a encher.

Paranoico, imaginava os outros a lamentar minha situação, quem sabe por já terem passado por igual suplício. A toda hora o garçom vinha na mesa e me oferecia qualquer coisa – não sei se dividindo a dor ou apenas vendendo seu peixe. Até a chegada da primeira companhia, nem mesmo o excelente chope me fazia feliz. Enfim, com ela, acendeu a luz no fim do túnel. Ah, e o jantar bombou.

Histórias de aniversariantes solitários em meio a bolos, velas e balões vicejam como lendas urbanas. Nunca passei por isso e, mesmo assim, morro de medo a cada festa. Queria ser seguro e confiante como o leitor que agora me rotula de dramático. Mas sou um fraco. O único consolo seria algum comentário confessando igual pesadelo. Você, por exemplo, já viveu esse apuro?


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8 comentários:

Lóris Brissac disse...

Duvido que o mais seguro dos homens não sofra com tais pensamentos vez ou outra. Felizmente, na maioria das vezes podemos respirar aliviados e
dizer... foi apenas um pesadelo.
Parabéns meu caro, como sempre é muito bom te ler.
Abraços

Rubem Penz disse...

Lóris, pois é. E como bem lembrou minha querida mestra Valesca de Assis, esse mesmo pesadelo assombra escritores momentos que antecedem os lançamentos de livros! E completo: aos músicos logo antes do show também!

Lóris Brissac disse...

A mestra tem toda a razão, pior que a Editora sofre junto com o autor, a cada lançamento de livro. E não pára por aí, cada livro ainda tem várias sessões de autógrafos... em várias cidades, livrarias e feiras de livros. Dá pra imaginar por quantos pesadelos como estes um Editor passa por ano???
Será que já criaram um seguro pra estas catástrofes?? hahaha

Felipe Braga disse...

Verdade! Pior é guardar as sobras inteiras....

Anônimo disse...

Caro Rubem
A gente não controla os pesadelos.
Mas, na vida real, podes deixar de lado qualquer ansiedade a respeito do fato de não aparecer ninguém na tua festa.
Quem iria te deixar sozinho? Atravessaria o Guaíba a nado (mesmo neste inverno tão frio) e escalaria montanhas para te encontrar. Só não enfrento as sombras da noite, que toda pessoa tem seus limites.
Juno-anônima

Rubem Penz disse...

Jussara,
Muito carinhosa sua mensagem! Fez-me um bem que não imaginas!
Obrigsado, beijos,
Rubem

Márcia Horner disse...

Sábado passado, organizei um ensaio de banda na minha garagem. O frio era assustador, não veio todo mundo mas foi muito bom!
Para não entrar no pesadelo, me garanti hospedando e pedindo ajuda p a decoração pouco antes da hora. Esperar sozinha? Eu não...

Rubem Penz disse...

Bem pensado, Márcia! Bem pensado!
Abraços, Rubem

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