GREVE DE SEXO E OUTRAS SEM-VERGONHICES
Está no noticiário: hoje, faz 24 horas que as
togolesas entraram em greve de sexo. A ideia é abster-se de abastecer maridos para
convencê-los a derrubarem o regime opressor. A inspiração vem das liberianas, e
do fato de o Presidente gostar muito dos esportes de alcova. Assim, elas não
amolecerão durante uma semana, na esperança de que os homens endureçam.
Que usem o ímpeto para a derrubada do governo –
argumentam as ativistas, joelhos fechados em piquete. Em riste, apenas os
punhos – ecoam as palavras de ordem. Armados, só se for para a luta – ordenam
sem dó nem piedade. Se desejarem muito meter algo, que metam logo o pé na porta
do Palácio – bradam as mais dispostas a levar essa história de trocadilhos além
da fronteira do bom gosto.
Fiz uma rápida enquete com os amigos de bar sobre essa
manchete. Um deles comentou que, na casa dele, uma semana sem sexo não seria
greve, e sim uma bênção, pois está exaurido de tanto fazer. Por algum estranho
motivo, ninguém acreditou. Quando ameaçamos ligar para a patroa e conferir a
história, o desmentido veio rápido.
Outro, cabisbaixo, confidenciou para o grupo em voz
miúda: no meu caso, sexo de sete em sete dias não é greve, está mais para
operação padrão... Parece que ele não ergue a bandeira com tal frequência desde
o tempo dos Caras Pintadas. Para motivá-lo à insurgência civil, bastaria a
promessa de retorno à normalidade constitucional, mesmo que, em alguma medida,
provisória.
Um terceiro invejou a situação africana. Para ele,
deixar de fazer sexo em causa tão nobre é algo magnífico. Por aqui, qualquer
motivo tolo já suscita paralisações. Foi tomar um chope com os parceiros na sexta-feira?
Greve. Coincidiu ter futebol na TV quarta e quinta? Greve. Deu carona à nova
colega de repartição porque chovia muito, ficando preso num engarrafamento e
perdeu a hora? Greve. Assim é difícil negociar!
Chamado a tomar posição nesse enrosco, procurei ser
conciliador. Sem ter o que tirar nem por quanto ao mérito da iniciativa
togolesa, a solução poderia estar nas mãos dos homens. Ora, que prometessem, por
um lado, uma passeata aqui, outra acolá. Em troca, exigissem uns 30% de
disposição – apenas para serviços essenciais. Afinal, o importante é cair o
governo, não a moral da tropa.
Enquanto isso, no Brasil, a sem-vergonhice pública não
faz greve nem tira férias. E nós, passivos.
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