TER OU NÃO TER
Parece ser consenso o fato de a classe média estar voltando a ser mais representativa no Brasil. Ainda bem, dirão os economistas, pois ela é o motor do crescimento econômico. Para eles, países desenvolvidos são marcados por ampla predominância desta fatia no prisma social. Ainda bem, dirão os governantes, já que a classe média é a vítima primordial dos impostos e, aqui, “fatia” ganha a conotação mais alimentícia para o apetite público. Segundo pude apurar em declarações recentes, estudiosos de economia e políticos divergem apenas na hora de classificar alguém como pertencente à faixa intermediária de consumo e renda. Na falta do número definitivo de salários mínimos para enquadrar determinada família na classe média, proponho uma classificação semântica: ricos e pobres são classes “e”. Os médios pertencem à classe “ou”. Explico.
Os ricos costumam morar em casas (apartamentos, coberturas, chácaras) amplas e localizadas em endereços considerados nobres. E são eles, também, os proprietários dos carros luxuosos e importados, quase nunca solitários nas espaçosas garagens – a regra costuma ser um para cada componente da família. E são ricos os melhores clientes de agências de turismo, hotéis e companhias aéreas. E as joalherias e as butiques e as escolas particulares e as casas de espetáculo e os restaurantes da moda e uma infinidade de comerciantes e prestadores de serviços são sustentados pelo estilo de vida dos ricos. Enfim, os ricos têm isso “e” aquilo. Fazem isso “e” aquilo. Freqüentam esse “e” aquele lugar.
Os pobres, ao contrário, habitam as mais modestas residências das cidades – algumas, inclusive, que nem mereceriam esta classificação: casebres localizados na periferia, em áreas invadidas, favelas e vilas populares. Pobres andam apenas de ônibus e trens e de bicicleta. Conhecem cidades charmosas pela TV – tela que os apresenta para hotéis, parques, aviões; praias de água cristalina e montanhas nevadas. Têm os filhos nas escolas públicas e têm direito às cestas básicas e recebem doações de roupas e freqüentam lazer gratuito e trabalham nos postos menos qualificados das empresas e são os clientes do mercado informal – o qual, muitas vezes, o compõem. Logo, aos pobres falta galgar quase todas as conquistas da civilização “e” tudo mais. Uma soma repetida de carências.
E a classe média? Bom, diferente dos que não precisam escolher e dos que não têm escolha, ela é a classe do “ou”. Ou moram em uma boa e bem localizada casa, ou guardam um carro de luxo na garagem. Ou conservam os filhos em escolas particulares, ou passam uma temporada por ano conhecendo o mundo. Ou se vestem com roupas de grife, ou estacionam no shopping um carro acima de mil cilindradas. Ou vão ao show do cantor famoso, ou mais de duas vezes por mês em restaurantes. Ou pintam a casa, ou trocam de carro. Ou são sócios do clube, ou pagam a prestação da casa na praia. Ou presenteiam a filha com uma festa de quinze anos, ou lhe proporcionam uma viagem. Ou se esfolam para pagar a faculdade dos filhos, ou já se esfolaram para que o jovem apenas estudasse – bastante – para passar em universidade pública. Ou, ou, ou, em infinitas combinações.
Assim fica fácil de saber se você, leitor, é de classe média: meça o quanto de sacrifício contém cada uma de suas conquistas. Toda vez que estiver abrindo mão de muitos hábitos ou algum patrimônio para galgar um objetivo mais elevado na escala de valores, estará honrando o pertencimento à Associação Permanente Trapezistas do Orçamento (APERTO), cuja bandeira se parece com um cobertor curto. A boa notícia é a enorme satisfação contida em cada esforço premiado. A má notícia é que, quando alguém de classe média alça uma vitória sublime (casa boa, carrão, temporada em Paris), acaba sendo rotulado de rico pelos pobres, e de inconseqüente pelos abonados. De uma forma ou de outra, parecerá viver uma ilusão. Para concluir, me sirvo da grande definição de classe “ou”, que até onde sei não foi cunhada por economistas ou políticos, e sim pela minha esposa: “classe média é aquela que sabe o que está perdendo”. Ou você tem uma melhor?
Parece ser consenso o fato de a classe média estar voltando a ser mais representativa no Brasil. Ainda bem, dirão os economistas, pois ela é o motor do crescimento econômico. Para eles, países desenvolvidos são marcados por ampla predominância desta fatia no prisma social. Ainda bem, dirão os governantes, já que a classe média é a vítima primordial dos impostos e, aqui, “fatia” ganha a conotação mais alimentícia para o apetite público. Segundo pude apurar em declarações recentes, estudiosos de economia e políticos divergem apenas na hora de classificar alguém como pertencente à faixa intermediária de consumo e renda. Na falta do número definitivo de salários mínimos para enquadrar determinada família na classe média, proponho uma classificação semântica: ricos e pobres são classes “e”. Os médios pertencem à classe “ou”. Explico.
Os ricos costumam morar em casas (apartamentos, coberturas, chácaras) amplas e localizadas em endereços considerados nobres. E são eles, também, os proprietários dos carros luxuosos e importados, quase nunca solitários nas espaçosas garagens – a regra costuma ser um para cada componente da família. E são ricos os melhores clientes de agências de turismo, hotéis e companhias aéreas. E as joalherias e as butiques e as escolas particulares e as casas de espetáculo e os restaurantes da moda e uma infinidade de comerciantes e prestadores de serviços são sustentados pelo estilo de vida dos ricos. Enfim, os ricos têm isso “e” aquilo. Fazem isso “e” aquilo. Freqüentam esse “e” aquele lugar.
Os pobres, ao contrário, habitam as mais modestas residências das cidades – algumas, inclusive, que nem mereceriam esta classificação: casebres localizados na periferia, em áreas invadidas, favelas e vilas populares. Pobres andam apenas de ônibus e trens e de bicicleta. Conhecem cidades charmosas pela TV – tela que os apresenta para hotéis, parques, aviões; praias de água cristalina e montanhas nevadas. Têm os filhos nas escolas públicas e têm direito às cestas básicas e recebem doações de roupas e freqüentam lazer gratuito e trabalham nos postos menos qualificados das empresas e são os clientes do mercado informal – o qual, muitas vezes, o compõem. Logo, aos pobres falta galgar quase todas as conquistas da civilização “e” tudo mais. Uma soma repetida de carências.
E a classe média? Bom, diferente dos que não precisam escolher e dos que não têm escolha, ela é a classe do “ou”. Ou moram em uma boa e bem localizada casa, ou guardam um carro de luxo na garagem. Ou conservam os filhos em escolas particulares, ou passam uma temporada por ano conhecendo o mundo. Ou se vestem com roupas de grife, ou estacionam no shopping um carro acima de mil cilindradas. Ou vão ao show do cantor famoso, ou mais de duas vezes por mês em restaurantes. Ou pintam a casa, ou trocam de carro. Ou são sócios do clube, ou pagam a prestação da casa na praia. Ou presenteiam a filha com uma festa de quinze anos, ou lhe proporcionam uma viagem. Ou se esfolam para pagar a faculdade dos filhos, ou já se esfolaram para que o jovem apenas estudasse – bastante – para passar em universidade pública. Ou, ou, ou, em infinitas combinações.
Assim fica fácil de saber se você, leitor, é de classe média: meça o quanto de sacrifício contém cada uma de suas conquistas. Toda vez que estiver abrindo mão de muitos hábitos ou algum patrimônio para galgar um objetivo mais elevado na escala de valores, estará honrando o pertencimento à Associação Permanente Trapezistas do Orçamento (APERTO), cuja bandeira se parece com um cobertor curto. A boa notícia é a enorme satisfação contida em cada esforço premiado. A má notícia é que, quando alguém de classe média alça uma vitória sublime (casa boa, carrão, temporada em Paris), acaba sendo rotulado de rico pelos pobres, e de inconseqüente pelos abonados. De uma forma ou de outra, parecerá viver uma ilusão. Para concluir, me sirvo da grande definição de classe “ou”, que até onde sei não foi cunhada por economistas ou políticos, e sim pela minha esposa: “classe média é aquela que sabe o que está perdendo”. Ou você tem uma melhor?
4 comentários:
Sou classe media e sempre fui, mas com frequencia variei bastante nos sub-niveis existentes nessa classe. Nunca nos faltou o basico, gracas a Deus.
Sim, sao muitos "ous", mas eu acredito que a maior riqueza que o criador nos deixo foi o livre-arbirtrio e a capacidade de decidir por nos proprios nosso destino. Neste sentido, todos nos, ricos, probres ou medios, temos "ous". Se eu ganhasse 1 milhao por mes, acho que seria rico, mas ainda assim... o barco ou o aviao? Se fosse muito pobre... Uma vida descente, comida na mesa p/ 15 filhos, ou os riscos pertinintes a uma vida de crimes?
Somos a soma da nossas escolhas, independente da nossa classe social. Infelizmente, de maneira generica, me parece que nao somos dignos da confianca que o criador nos depositou. Nas palavras do apresentador Larry King "Onde foi que nos acertamos?"
Pessoas mudam de classe rapidamente quando abrem mao de valores basicos. Com venda de drogas "ou" entranda na politica pessoas tem passado de uma classe para outra relativamente rapidamente. O "ou" que nao deveriamos ter eh sermos capazes de servir a Deus e ao Diabo ao mesmo tempo, mas aparentemente essa eh uma das limitacoes da natureza quanto voce presentei suas criaturas com livre-arbitrio. Voce tem a opcao de concordar "ou" discordar da minha opiniao independente de sua classe social. Abracos.
É verdade, Paulo Henrique: o "ou" é a marca do livre arbítrio, e isso não é atribuição de uma única classe. Mas, no caso da classe média, digamos que seja uma "liberdade condicional". Condicionada, é claro, ao contracheque!
Abração, sigamos no caminho do bem!
Rubem
É isso aí, Rubem.
Aproveitando a época natalina: ou, ou, ou!
Ou passas o Natal com a mãe, ou passas com a sogra. É um problema em todas as classes, eu acho.
Como boa representante da média, já fiz minha opção. Pintei a casa.
Abraço,
Zu
Sensacional, Zu: ou, ou ou do Papai Noel! Não havia pensado nisso! E estamos pintando a casa, também... Ai, ai, ai!
Abração,
Rubem
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