20.11.08

Número 292

AS TRINCHEIRAS DA ETERNIDADE

Múltiplas obras de ficção, tanto de literatura como adaptadas ao cinema, projetam um futuro aparentemente sombrio: homens despidos de suas conquistas tecnológicas e sujeitos, outra vez, às forças hostis da natureza. Quem imagina que tais presságios são fruto de autores ressentidos com os rumos da sociedade, protestando em delirantes brados de alerta, engana-se feio. Escritores são, especialmente, bons observadores. Percebem, assim, a transitoriedade do homem – que se julga tão poderoso – e a força da natureza, eterna em sua capacidade de recuperação.

Para a confirmação desta tese, proponho um exercício prático: escolha um pedaço de chão de qualquer tamanho e faça o mais caprichado jardim, tão lindo quanto possível. Cuide de cada detalhe: ph do solo, nutrientes, sombra, flores, pedras decorativas, folhagens e tudo o que mais lhe agradar. Zele por tal ambiente durante um ano – tempo que, creio, levará para a vida se fazer plena na beleza planejada. Então, finja morrer, isto é, não controle – altere – mais nada. Depois, acompanhe a evolução do seu jardim por igual período, com a acuidade de um cientista. A natureza, em sua vocação de vida, proverá ao espaço delimitado uma imensa diversidade, substituindo o tênue critério da estética humana por outro muito mais seguro: o do equilíbrio ambiental.

Em última instância, é essa visão que assombra os ficcionistas: a natureza aguarda apenas uma distração do homem – um mero acidente de percurso, uma fatalidade qualquer – para seguir seu rumo. Depois, terá muito tempo para restabelecer a ordem, mesmo sendo ela nova, posterior às alterações advindas de nossa passagem na terra. Porém, em nada parecida com os jardins artificiais por nós denominados de cidades – lugares com menos vida, no sentido de diversificação de espécies, do que qualquer inocente matinho de arrabalde. Um exemplo? No Parque Estadual de Itapuã, às margens do Guaíba, ambientalistas preservam as ruínas das casas de invasores para que nós, visitantes, possamos testemunhar a impressionante retomada da natureza, ocorrida em pouco mais de uma década. Calcule, agora, o que restará das habitações em milênios.

Quando os ecologistas defendem uma mudança de rumo na dita civilização, redirecionada ao equilíbrio ambiental, estão mirando muito mais na salvação da humanidade do que no socorro ao planeta em si. Em milhões de anos, a terra viu nascer e sucumbir todo tipo de animal e planta, cujos resquícios nos são oferecidos aos estudos paleontológicos. Se alterarmos demais o ambiente que permitiu nossa presença por aqui, fazemos crescer nosso próprio risco de extinção. Basta olhar o exemplo de tantas outras espécies – vítimas do desmatamento e da poluição –, outrora imponentes, transformadas em criaturas tão frágeis como as flores do nosso jardim. Há um limite nesta sanha de progresso: tornarmo-nos, com ironia melancólica, incompatíveis com o meio que modificamos.

Ao contrário do que se possa pensar, a sociedade não está imune a um colapso energético, tecnológico ou de saúde pública. E não são apenas os escritores a pressentir e temer por isso: há um alerta geral neste sentido, partindo de diversas áreas do conhecimento. Se a nossa vida tornar-se excessivamente dependente das alterações que propiciam um conforto de caráter imediato e consumista, ela estará em sérios apuros. Respeitar a natureza na qualidade de seres transitórios é nossa única chance de acompanhá-la em sua plenitude. Estar em harmonia com a diversidade biológica é a oportunidade de também fazer parte dela. Despoluir o meio ambiente e salvar espécies em vias de extinção é antecipar ações que, no futuro, podem garantir nossa própria continuidade. A vida sempre vencerá a batalha, já está decidido. Logo, é preciso lutar a seu favor, agora mais do que nunca, nas trincheiras da eternidade.

Um comentário:

Paulo Seth disse...

Ontem assisti a um programa da CNN International sobre o derretimento do gelo no polo norte. Nunca na historia documentada da humanidade existiu tao pouco gelo. Na verdade, cientistas canadenses que trabalham na regiao por mais de 30 anos acreditam que pelo menos nos ultimos 1 milhao de anos a quantidade de gelo foi tao pouca. Ha alguns anos ainda havia alguma duvida sobre se o aquecimento global era causado por forcas naturais ou por nos seres humanos. Hoje nao ha mais. NOS SOMOS OS CULPADOS! A humanidade eh como um parasita maligno que, completamente ignorante, insiste em resistir a mudancas que hoje provavelmente ja nao salvarao mais a situacao. Nao sao apenas os Americanos, os Chineses, Os Russos, seja quem for. Somos todos nos. Resta a confianca que a mae Terra ainda eh bem mais poderosa que nos e que nos somos meros habitantes do planeta porque ela assim permite. Ela nao continura permitindo nossa irresponsabilidade por muito mais tempo e simplesmente nos eliminarah, como um organismo elimina um risco potencial com seu sistema imunologico. Teorias da conspiracao a parte, eu acredito que o prinicipio de tecnologias auto-sustentaveis ja existem desde a epoca de Tesla (se quiserem chamar de motores perpetuos, fiquem a vontade... Nao sou tao estupido quanto fisicos que se acreditam tao espertos que ja sabem como o Universo funciona). Procure no Google ou You Tube sobre Zero-point energy ou Over-Unit generators (sugestao www . aero2012 . com). Eh possivel que hoje ja poderiamos viver em um planeta muito mais limpo, sem os primitivos motores a explosao queimando combustivel fossil ou usinas eletricas movidas a carvao ou nuclear. O poderoso cartel energetico que nos mantem escravo da atual realidade nao tem interesse em mudar isso e isso sera nossa perdicao. Bem feito p/ nos!

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