9.9.10

Número 386


BODAS DE PRATAS DA CASA

Rubem Penz*

Circula no meio literário brasileiro uma observação bem-humorada, segundo a qual basta que se levante uma pedra aqui no Rio Grande do Sul para encontrarmos dois escritores. Evidente exagero. Porém, o número de gaúchos publicando nas melhores editoras do país, indicados ou vencedores de concursos nacionais e internacionais, com suas obras traduzidas e – importante! – abastecendo o mercado com bons livros a cada ano demonstra um fundo de verdade nisso tudo. Da quantidade, sabemos, nasce a qualidade.

Tal fenômeno pode ser explicado em parte pela existência de muitas oficinas literárias por estas plagas. Dentre elas, a mais representativa de todas: a Oficina de Criação Literária da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), ministrada pelo escritor e professor Luiz Antonio de Assis Brasil. Ela, que é a mais antiga em atividade de forma ininterrupta em território nacional, acaba de completar 25 anos de existência. E, para comemorar a data, reuniram-se alguns escritores que por ela passaram para a Aula Inaugural do segundo semestre do curso de Letras da PUC. Dentre oito centenas de egressos, tive a honra de ser um dos seis nomes que compuseram a mesa.

Foi uma oportunidade invejável para os convocados, Cíntia Moscovich, Daniel Galera, Jaime Cimenti, Marcelo Spalding, Robertson Frizero e eu, em nome dos demais, agradecermos o privilégio de cursar a Oficina do Assis, como também chamamos. E de testemunhar diante do Magnífico Reitor, professor homenageado, mestres e alunos, o quanto seus dois semestres de duração foram importantes em nossa vida pessoal e literária. Sem combinarmos nada, um complementou o que o outro decidiu ressaltar, dando uma ideia do que nos acrescentou cada seminário, exercício, referência ou dica proposta pelo mestre.

Outra coincidência valiosa: bastaria a leitura de qualquer fragmento da obra dos autores ali presentes para trucidar a tese de que oficinas literárias formam escritores padronizados, todos urdidos à semelhança do professor. É abissal a distância entre seis, sessenta ou seiscentos de nós, pois o talento, acrescido de técnica, evidenciou ainda mais nossas diferenças, fortalecendo traços individuais. Algo que também pode ser comprovado nas Antologias que já alcançam a marca de 40 – esta mais recente com lançamento marcado para sábado, 17h, na Livraria Saraiva do Praia de Belas Shopping.

Concluo com o grande consenso da solenidade de aniversário: mesmo que da Oficina de Criação Literária da PUCRS não houvesse saído escritores respeitáveis, e são vários os acima da média, sua existência estaria plenamente justificada pelo surgimento de oitocentos excelentes leitores. Leitores críticos, preparados, sensíveis, exigentes, experimentados, detalhistas. Leitores capazes de valorizar o labor dedicado a cada palavra que compõe o bom conto, poema, romance ou crônica, pois conscientes do tempo e do esforço despendido. Logo, para que aqueles dois escritores que estão debaixo da pedra conquistem um lugar ao sol literário, será demandado muito empenho. Também por isso, obrigado professor Luiz Antonio de Assis Brasil!

*Aluno da turma de 2007

Um comentário:

Anônimo disse...

Quanta honra pertencer aos pupilos do mestre Rubem Penz.
Rubem nos ensina mais que estilo, interpreta a vida. Palmas, amigo, mereces medalha de ouro no coração dos teus fãs.

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