NÃO
É UM BOM COMEÇO
Velhos
manuais de marketing, escritos antes mesmo de o termo virar moda, apregoavam
que a venda começa quando o cliente diz não. Sem a negativa, o nome para essa
troca de valores por objetos e/ou serviços seria, no máximo, compra. Venda, jamais.
Ao final, o resultado pode até ser parecido. Porém, apenas no sim, ambos saem perdendo:
cliente sem chance de barganhar ou conhecer outras opções, ao vendedor é
sonegada a oportunidade de aprimorar-se com vistas para a próxima transação.
Acontece
algo muito parecido dentro dos nossos lares. Educar um filho começa tão somente
quando os pais dizem não. Sem a negativa, o nome para essa troca de afetos pode
ser qualquer um que se resolva dar: liberdade, direito, prêmio. Para piorar, o
resultado também pode soar parecido. Porém, ambos saem da interação sem nenhum
aprendizado: à criança é sonegada a chance de lidar desde tenra idade com a
noção de limite, enquanto os pais perdem a oportunidade de transmitir valores.
É
sempre junto ao universo daquilo que não podemos que estará contido o que
podemos; junto do que não devemos que estará o que devemos; do que não
precisamos aquilo que precisamos. Tão necessárias quanto as possibilidades são
as impossibilidades. Talvez até mais. São os limites que nos moldam e, mesmo
para rompê-los, é preciso reconhecer sua existência – ultrapassar o quê, se
nada me baliza?
Apesar
de sua fama negativa, por assim dizer, o não é a palavra que mais protege. É o
termo preferido de nossa consciência, ela que existe para discernir entre o
certo e o errado. O não, assim como a dor, são heróis incompreendidos que nos
salvam de nós mesmos. O sim, tão belo (tão necessário), desconhece o perigo.
Nunca mede as consequências de seu poder.
Tenho
filhos e amo seus sorrisos diante dos meus sins. Contudo, sem o interdito firme
e repetido, o aprendizado deixaria de acontecer. E, sem ele (sem a transmissão
de valores), sei que terão dúvida na hora de dizer não ao que a vida oferece – vendedora
às vezes inescrupulosa. Uns ficarão sem conhecer todas as opções, a outra sem a
necessidade de aprimorar-se.
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