VIVEMOS
NOVOS TEMPOS
Quando liguei para o meu amigo, descobri que ele
estava com outra. Mas nem era a primeira ou segunda vez que trocava. Camarada
incorrigível.
– Qual o problema? Bem vindo aos novos tempos! Vai me dizer
que nunca trocou?
Respondi que não, nunca trocara. Era a primeira e a única
desde sempre e, mesmo sofrendo constante assédio, nunca pensara em deixá-la. O
nome disso é fidelidade, eu disse. Olha o meu pai: uma até que a morte os
separou. Do outro lado da linha ele riu.
– O nome disso é burrice! Você não é fiel, é otário. Um
acomodado. Eu conheço todas elas muito bem: gostam mesmo de gente assim. Duvidê-o-dó
que a ela faça por ti mais do que as outras vão fazer...
Não era uma questão de mais ou de menos, argumentei.
Na realidade, não nutria a menor esperança: no começo, todas parecem ótimas,
solícitas, cheias de promessas. Passa um ano ou dois e se tornam muito iguais.
Quem vive trocando deveria saber disso melhor do que eu.
– Então? Quer motivo melhor para pular fora rapidinho?
Fico só o tempo do bem bom, enquanto eu pareço um troféu, uma conquista. Vivo o
momento, sou o máximo!
Troféu coisíssima nenhuma! Mas ele gostava mesmo de se
iludir. Não se dava conta de que elas só ligavam para ele quando estava com
outra. Depois de conquistá-lo, transformava-se, ele sim (não elas), em apenas
mais um. E nem dos melhores. Rola quase um desprezo, eu disse.
– Esqueceu que já andei com a tua, e que fui eu quem a
deixou, sabichão?
Pegou pesado, chegamos ao limite. Ninguém mudaria de
opinião. Fiel ou acomodado, continuo com a mesma operadora de telefonia
celular. Esperto ou iludido, ele continuará trocando. Desliguei.
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