5.9.12

Coluna do jornal Metro 05.09.2012

BRASIL NAS PARALIMPÍADAS: VISIBILIDADE PARA DEFICIÊNCIAS
Nossos atletas paralímpicos estão, outra vez, empilhando medalhas.  Em cada novo dia dos Jogos de Londres, mais e mais bronzes, pratas e ouros. E, se não bastasse, já batemos recordes mundiais e sobrepujamos favoritos. Outra peculiaridade: ótimos resultados em atletismo. Na comparação com os Jogos Olímpicos, os paratletas brasileiros levam nítida vantagem.
Eis uma boa notícia, mas... É impossível que só eu fique intrigado com essa situação. Deve ter uma explicação para tal fenômeno. Vamos às hipóteses: a primeira, numérica, faria crer que vivemos em uma nação de aleijados. Nunca antes na história da humanidade um país teve tantos cegos, amputados e demais portadores de necessidades especiais para competir. Confere? Não. Então, deve ser por outro motivo.
Já sei: há políticas públicas e ações privadas de pleno amparo ao nosso deficiente (a patrulha politicamente correta abomina esse termo). Aqui, eles encontram estruturas preparadas para acolhê-los, facilitar suas vidas, corresponder às suas necessidades e, então, incentivá-los ao esporte. Confere? Quem anda nas calçadas de nossas cidades, sobe em ônibus ou entra em prédios sabe que não. O motivo é outro.
Quem sabe seja pelo fato de o brasileiro ser especialista em driblar dificuldades? Estamos esquentando... Afinal, ultrapassar obstáculos (reais e metafóricos) está no DNA do povo brasileiro. A malandragem, o jeitinho e o "se dar bem" seriam apenas subproduto de uma cultura de superação, de ir contra a maré. Logo, nossos portadores de necessidades especiais têm garra de sobra para alcançar o pódio Paralímpico, pois vivem no dia a dia a obrigação de vencer apenas por si. Tudo que os atrapalha, fortalece.
Esse raciocínio, por um viés torto, explicaria nosso fracasso nas Olimpíadas: no povo, só temos paratletas. Fique claro, porém: suas deficiências são extrínsecas – não lhes faltam membros ou sentidos. Capengas, subdesenvolvidas, obtusas são as condições de trabalho. Esporte na escola? Só para meia-dúzia (particular). Treinamento especial? Quando há, está distante dezenas de quilômetros de sua moradia. Incentivo? Só o da família (mais conhecido como sacrifício). Grandes patrocínios? Quando (se) for campeão.
A contraprova vem nas tantas medalhas no Hipismo, Vela e outros esportes elitizados ou midiáticos, onde há paridade com o Primeiro Mundo. Fora deste Olimpo, estão nossos deficientes. Ou melhor, nossas deficiências. E os heróis.

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