CINDERELA, O PRÍNCIPE E O FINAL FELIZ
Era
uma vez Cinderela, uma gata borralheira que, depois de ficar órfã, foi
tiranizada por sua madrasta e filhas – todas invejosas de sua formosura. Rebaixada
ao papel de criada, tinha nos animaizinhos seus únicos amigos. Mas, ao
contrário do que se possa crer, conservava sua beleza e alto astral (seria o
caso de aproveitar esse gancho para uma campanha publicitária desses novos e
milagrosos produtos de limpeza).
A
história mudou de rumo quando o Rei e a Rainha marcaram um baile para desposar
o encantador filho – ele que, por romântica teimosia, relutava entre candidatas
políticas. À época, fique o registro, era com alianças no altar se faziam alianças,
e não com cargos ou ministérios. A madrasta, temendo pelo insucesso das filhas,
boicotou a ida de Cinderela. Contudo, não contava com uma Fada Madrinha para
garantir a presença da bela. À época, fique o registro, apadrinhamento já fazia
a diferença.
O
Príncipe – nossa! – surtou quando Cinderela entrou no salão. Era deslumbrante: cabelo,
joias, maquiagem, lingeries, vestido e um incrível sapatinho de cristal. Aliás,
um pezinho dele foi o que restou para trás quando bateu meia-noite e o encanto
se desfez. A borralheira voltou para seu cubículo imundo e a vida continuou
muito dura.
Porém,
com o sapatinho nas mãos, desconsolado, o nobre decidiu reaver o que parecia
perdido. Varou o reino em sua cruzada, fazendo a carruagem estacionar em cada
endereço. Chegando à casa da madrasta, as feiosas esconderam Cinderela no sótão.
Astuto, um ajudante real viu a moça na janela, resgatando-a. E, num passe de
mágica, quando vestiu o pezinho dela com o sapato perdido, o outro pé apareceu!
Que alegria!
O
Príncipe deixou a casa levando, enfim, o par completo – mereceria destaque em
seu closet. Antes, é claro, pagou para Cinderela um bom preço por ele e, ainda,
deu-lhe o cartão do advogado do reino para que ela colocasse a madrasta na
Justiça do Trabalho – havia sinais claros de exploração de menor, trabalho
escravo, insalubridade, nada de horas extras ou férias remuneradas. Um horror!
Com
a indenização, Cinderela abriu um atelier com a Fada e passou a vestir toda a Corte,
a começar pelo Príncipe: marco no nascimento e ascensão da burguesia e da mulher
independente. Ao final, todos, menos a madrasta, viveram felizes para sempre.
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