007 PERDE LICENÇA PARA ENCANTAR
A mais longa, célebre e lucrativa franquia cinematográfica completa 50 anos: as aventuras do agente secreto James Bond. Criada por Iam Fleming em 1953, foi adaptada pela primeira vez para as telas em 1962 no filme "O Satânico Dr. No", com o espião na pele do ator Sean Connery. De lá para cá, seis intérpretes viveram o papel e mais de 20 filmes oficiais foram produzidos. Mas o tempo deixa suas marcas.
Dá para saber a que geração alguém pertence perguntando qual foi seu primeiro Bond. Adianto o meu: "007, o Espião que me Amava", de 1977. Levarei para sempre na memória a cena inaugural: uma ágil perseguição de esquis na neve austríaca, culminando no salto da montanha, quando se abre o paraquedas com a bandeira britânica. E a música-tema de Monty Norman, com sua guitarra inconfundível na sensualíssima abertura com sombras de mulheres nuas, tiros e fugas. Recém-chegado na adolescência, enlouqueci!
Talvez por isso meu Bond preferido seja Roger Moore, ladeado no pódio por Sean Connery e Pierce Brosnan. O que me agrada em Moore é a canalhice explícita que dota o personagem. Numa análise distanciada, e depois de ter conferido os filmes anteriores e posteriores, considero aquela leveza de James Bond como o desejo inconsciente (ou plano sutil) de aliviar as gravíssimas tensões da Guerra Fria, ainda no apogeu naquele momento.
Sejamos honestos: o espião ganhara licença para matar em defesa do Ocidente capitalista. Nesse mesmo filme, o conflito gira em torno das armadas nucleares soviéticas e norte-americanas, cujo poderio estava por ser manipulado por um vilão inescrupuloso interessado em chantagear os dois lados, convenientemente unidos quando a linda agente russa Anya Amasova torna-se amante de Bond. Na política as partes não se entendiam, mas na alcova o enlace estava garantido.
Os britânicos comemorarão a data com a extensa viagem de uma caixa dourada contendo os 22 filmes já exibidos dentro de aviões, trens, automóvel, navio e até a pé. Nela, atores que participaram das filmagens serão protagonistas da aventura real. Tudo coincidirá com o lançamento do 23º filme oficial, terceiro a ser estrelado por Daniel Craig, um destruidor brutalizado e frio que em nada se irmana ao enigmático Connery, ao divertido Moore, ao sedutor Brosnan.
Assim que estamos: a luta do bem e do mal, seja em Londres, Moscou ou nas ruas de Porto Alegre, perdeu de vez o charme. A crua realidade parece ter matado o encantamento. Todos, agora, parecem vilões. Até 007.
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